Para muitos brasileiros, ter um sono tranquilo e reparador é apenas sonho. Um levantamento de cientistas da Universidade de São Paulo (USP) e da UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) revelou que 65,5% da população convive com um sono de má qualidade. Entre as principais queixas estão: inúmeros despertares durante a noite, acordar cansado mesmo após horas dormindo, insônia, ronco, problemas com o colchão, ansiedade, preocupações, entre outros motivos.
Para o psiquiatra João Gallinaro, médico especialista em sono, uma noite bem dormida é fundamental para o funcionamento do organismo. “É o sono que regula todas as funções do corpo e quando ele não é de qualidade há perdas significativas na liberação de hormônios, regulação do sistema imunológico e consolidação da memória”, define. “A noite, o organismo elimina algumas toxinas produzidas durante o dia e quem não dorme bem, perde também esse processo”, complementa o especialista.
A Associação Brasileira do Sono (ABS) estima que 73 milhões de brasileiros sofrem de insônia em algum nível. É constatado que a privação de sono tem impactos importantes na saúde. “Além de bagunçar a produção hormonal e prejudicar o sistema de defesa do organismo, um sono ruim está relacionado a doenças cardiovasculares e metabólicas”, explica o psiquiatra.
Dormir é um processo fisiológico e natural que deve ser levado à sério a fim de garantir o bem-estar físico e mental de cada um. Entretanto, forçar o sono ficando na cama ou se pressionar a dormir um número determinado de horas por noite podem desencadear ansiedade ou condicionarem a pessoa à um sono de má qualidade. “Uma pessoa que não consegue dormir, vai virar de um lado para o outro, ficar nervosa e por consequência entrar em estado de tensão, totalmente contrário ao necessário para dormir”, argumenta o médico.
Desmistificar os mitos sobre o sono é o primeiro passo para começar a ter um descanso reparador, auxiliando o organismo a desempenhar suas funções e equilibrando na rotina rituais que ajudam na hora de dormir, como não ficar diante das telas antes de ir para cama, incluindo o uso dos smartphones.
Conheça 7 mitos sobre o sono, de acordo com o médico especialista João Gallinaro, e comece agora a melhorar o seu:
Com o tempo, seu corpo se acostuma a dormir menos do que precisa: o organismo tem uma necessidade diária de sono, que sofre mudanças ao longo da vida, precisando de mais horas na infância e menos na fase adulta para se sentir bem. O que acontece é que quando dormimos pouco por um tempo prolongado, o corpo se acostuma a viver com 60% de sua capacidade máxima. “Dormir menos traz inúmeros problemas consequentes da privação de sono, entre eles: sonolência, desatenção, mal humor e falta de concentração, além de aumentar o risco cardiovascular e as doenças metabólicas e prejudicar o sistema imunológico”, esclarece o psiquiatra.
Dormir em qualquer lugar faz de você uma pessoa que dorme bem: “Quando a pessoa dorme muito rápido e em qualquer lugar ou situação, isso é um forte indício de que seu sono é de péssima qualidade. Não importa o quanto ela durma, nunca se sentirá completamente recuperada, seu organismo nunca se regenerará o suficiente e ela vai estar sempre com sono”, afirma o especialista.
Ingerir álcool antes de dormir ajuda no sono: Dependendo da quantidade, a ingestão de álcool pode até fazer com que a pessoa durma mais rápido, entretanto a qualidade do sono será ruim porque ele vai ser fragmentado, tornando a noite conturbada para o corpo. “O álcool também relaxa a musculatura, inclusive as estruturas das vias aéreas, fazendo com que o ronco seja mais frequente e desencadeando outros distúrbios. Também há o aumento da incidência de pesadelos, a desestruturação do sono e levar a dependência”, elucida João Gallinaro.
Você deve ficar na cama caso não consiga dormir: Para estar preparado para ir para a cama, você deve estar com sono, em estado de relaxamento e com a mente tranquila. A maioria das pessoas vai dormir em condições desfavoráveis para o sono: depois de assistir seu programa favorito, quando acha que já está tarde ou quando o parceiro (a) vai se deitar. “Só deveríamos ir para a cama com sono porque forçá-lo é prejudicial e pode desencadear ansiedade e tensão”, revela.
O ronco não faz mal à saúde: Roncar pode ser um sinal de apneia destrutiva do sono, que é um distúrbio que causa pausas na passagem de ar pelas vias aéreas superiores, causando diversos despertares ao longo da noite e queda da quantidade de oxigênio. “O ronco também está associado a doenças cardiovasculares e metabólicas, pode ocasionar sonolência durante o dia, baixa libido e dores de cabeça ao acordar, sendo necessário a investigação de um especialista”, orienta o psiquiatra.
Você consegue recuperar o sono perdido nos finais de semana: O organismo não consegue nem dormir pouco durante a semana e nem dormir muito no final de semana. “Quando não se dorme o suficiente, hormônios deixam de ser produzidos e o corpo acaba não passando pelo sistema de reparação que ocorre a noite e elimina toxinas geradas ao longo do dia”, relata.
Todo mundo precisa de 8 horas de sono por noite: “Um adulto precisa de 7 a 9 horas de sono para ficar bem. Se uma pessoa dorme menos que oito horas e acorda com disposição e sensação de reparação do corpo, isso já é o suficiente”, finaliza o médico.