O Guia Alimentar da População Brasileira preconiza que, para ter refeições mais saudáveis, o segredo é seguir uma regra simples: mais comida de verdade e menos processados.
Não precisa torcer o nariz para a ideia de uma alimentação mais equilibrada, principalmente, em tempos de crise econômica. Comida de verdade, aquela que nossos pais e avós comiam na infância, é saudável e não leva ninguém à falência. O segredo é estar pronto para fazer substituições, aproveitar os alimentos de forma integral e valorizar os produtos locais, normalmente, mais baratos.
A verdade é que fomos mudando a dieta pela mídia, pela comodidade, e a impressão, agora, é que comer melhor sai mais caro. Mas o custo de uma dieta com mais alimentos in natura não é maior do que a de uma dieta de alimentos ultraprocessados.
A regra da comida de verdade parece fácil, mas todos nós sabemos o quanto é difícil fugir da praticidade dos congelados, néctares de frutas, molhos enlatados, macarrões instantâneos e toda uma série de produtos que surgem a cada ano, carregados de sabor e prometendo economia de tempo. A principal luta de quem defende uma alimentação mais saudável é, justamente, quebrar esse domínio dos industrializados.
Os ultraprocessados são energicamente mais densos e, normalmente, de fácil ingestão. Também estão carregados de sal, gordura, açúcar e outros aditivos que ajudam a melhorar o sabor e a textura. Combinados esses fatores à praticidade e ao apelo da publicidade, está feito o estrago.
Veja o macarrão instantâneo. Uma porção não custa menos que um macarrão comum e, no fim, a diferença entre o preparo do instantâneo e o tradicional – refogado com tomate e cebola e acompanhado por um ovo cozido, que até o mais desastrado dos cozinheiros sabe preparar – não chega a 10 minutos. Pouco tempo para o ganho nutricional que se tem.
Além disso, ao preparar a própria comida – em vez de apenas abrir pacotes, latas e caixas –, temos uma noção mais clara do que se está ingerindo.
Quando o preparo é em casa, você vê a quantidade de gordura, de sal e de açúcar que foi adicionado àquele alimento, e passa a ter consciência do que está ingerindo. Também não vejo ser necessário investir nos sem glúten ou zero lactose – que viraram moda – para comer melhor. O retorno às raízes é o segredo.
Mas, como voltar ao cardápio de nossos ancestrais em um mundo de rotina tão diferente, com a entrada da mulher no mercado de trabalho, a perda de tradições culinárias e outras mudanças de hábito?
Para começar, é preciso se adaptar aos novos tempos e passar a partilhar as atividades domésticas. No Guia Alimentar da População Brasileira, esse é, justamente, um dos pontos abordados. No item comensalidade, o guia recomenda que sejam divididas as atividades que precedem e sucedem o consumo das refeições – em outras palavras, das compras à louça, a responsabilidade deve ser de todos da família.
E o bolso, como fica em toda essa história? Pesquisar preço e usar a criatividade para substituir o que está caro é a resposta. Procurar fazer as compras na feira livre ou diretamente com o produtor também pode ser uma alternativa. Se consumirmos produtos da época, também estaremos comendo um alimento com mais qualidade e preço acessível. Com criatividade e amor, conseguimos deixar nossas refeições nutritivas, deliciosas e econômicas.
Por Célia Souza
Célia Souza é nutricionista e food stylist. Na pandemia descobriu que poderia ajudar negócios femininos através de fotos profissionais da gastronomia. “Acredito que somos, todas nós mulheres, um canal de transformação. Algumas têm mais alcances, mas toda mulher, dona de casa, mãe ou empreendedora tem o poder de ajudar o outro e transformar realidades. Somos mais fortes e poderosas do que imaginamos.