Muitos empreendedores foram afetados pelos efeitos negativos das atividades de mineração em alguns bairros de Maceió. A artesã Maria Corá, que há 20 anos confecciona peças feitas de argila, é uma dessas pessoas prejudicadas. Em meio às rachaduras registradas no bairro do Pinheiro, a empresária teve de deixar a casa e o ateliê, onde produzia e vendia as suas peças, para recomeçar a vida em outro lugar.
A situação da artesã ficou ainda mais difícil com o surgimento da pandemia do novo coronavírus. “Para a totalidade da humanidade, tem sido muito difícil ficar em casa, mas quando você pode ficar numa casa que foi você quem escolheu, que foi você quem construiu e que tem tudo aquilo que você quer e precisa, fica muito mais fácil porque você fica confortável. Agora, a gente está numa casa que cabe dentro da garagem da nossa antiga casa e não nos foi dado o poder de escolha”, desabafa.
Com a mudança forçada em virtude da situação caótica vivenciada no bairro do Pinheiro e as medidas de distanciamento social adotadas para conter o avanço da Covid-19, a empresária teve de encontrar uma alternativa para manter a venda das peças. “Hoje, estou praticamente sem ateliê, praticamente só o Instagram está funcionando. Hoje em dia, o Instagram é 100% das minhas vendas. Antes era 30% ou 20%. Se não fossem as redes sociais, eu não teria conseguido vender e seria muito pior do que foi”, relata a empreendedora.
“Como as minhas vendas diminuíram muito, porque eu vendia para lojistas, que geralmente compram o artesanato com um valor 30% mais barato, eu comecei a vender menos, mas a ganhar mais, ou seja, se antes eu vendia uma peça com 30% de desconto, hoje em dia eu estou ganhando 100% do valor de uma peça e isso é muito bom pra mim. Eu vi o lado bom”, acrescenta Maria Corá.
“O meu trabalho, muitas vezes, me socorre”
Além de utilizar o artesanato como fonte de renda, a empresária também tem aproveitado os momentos de produção para “se desligar” um pouco das dificuldades vivenciadas neste momento de crise. “O meu trabalho, muitas vezes, me socorre, me tira do sufoco por conta que eu esqueço um pouco de tudo isso. Mas, às vezes, mesmo com esse trabalho maravilhoso que eu tenho, é muito difícil”, relata.
“Tentar mensurar o quanto foi que eu perdi, tanto com essa questão do Pinheiro quanto com a questão pandemia, não dá. O que eu posso dizer é que eu tento pelo menos manter a sanidade, que já não é fácil. Meu ateliê era enorme e eu ficava o dia todo porque eu gostava de estar lá. E hoje as coisas estão umas em cima das outras. Nós não temos espaço”, complementa a artesã.
Apesar das dificuldades enfrentadas recentemente e das incertezas sobre o futuro, a empresária não se vê fazendo outra coisa. Para ela, desistir não é uma opção. “Por mais que eu tenha problemas, eu não tenho a opção de parar porque eu não consigo parar. Eu sou ‘escrava’ do meu trabalho. Eu não consigo não fazer”, afirma.
Em busca de apoio
Para adaptar o negócio à nova realidade, a artesã Maria Corá conta que procurou o auxílio do Sebrae em Alagoas. “Há alguns meses eu fiz algumas capacitações online que me ajudaram muito com a questão das mídias sociais”, relembra. A empresária relata, ainda, que o primeiro contato com a instituição aconteceu há cinco anos, quando o negócio dela ainda não era formalizado.
“Quando eu entrei no Sebrae não tinha nem ideia de que eu fosse ter essa cabeça de hoje e que eu fosse saber de tanta coisa, principalmente relacionada à comercialização. Você cria uma rede de conhecimento muito grande. Além disso, depois que eu consegui o CNPJ, ficou mais fácil empreender. Eu passei quase 15 anos doando as minhas peças praticamente, não tinha constância nas minhas vendas”, recorda.
Artesanato com personalidade
Com peças inspiradas nas rendeiras alagoanas, o ateliê da Maria Corá transforma argila em bonecas e outros objetos primorosos através de um trabalho cuidadoso e original. “A primeira palavra que eu posso falar com relação ao meu produto é personalidade. E eu sempre prezo pela exclusividade. É aquela coisa bem delicada mesmo, o trabalho chega ao limite da delicadeza, onde você pega um pedaço de barro e faz parecer com porcelana, parece algo industrializado de tão perfeito que é. A argila tem um tratamento que tem muito cuidado e zelo no trabalho, e isso explode no final da peça”, descreve.
Para a artesã, a delicadeza e a originalidade das peças refletem no bom desempenho das vendas, inclusive, no meio virtual. “O meu trabalho é muito único e tem uma personalidade muito forte. Então, talvez seja por conta disso. Eu coloco uma peça, eu posto uma peça e com cinco minutos eu consigo vender a peça. Então, não existem problemas com relação ao Instagram porque é uma ferramenta muito fluida”, ressalta.