Sabe quando você já explicou algumas vezes para o seu filho o que a questão da tarefinha da escola está pedindo, mas ainda assim ele erra, diz que não entendeu ou que não sabe? A paciência dele se esgota rapidinho e você se irrita pensando consigo mesma que ele não está se esforçando o suficiente. O caldo entorna e você se sente péssima mãe porque não consegue ensinar. Óh céus, a mãe se sente péssima com muitas coisas.
Primeiro é importante que você saiba que não é a única. Todos os dias centenas de mães desistem e dão a resposta, soletrando letra por letra se for preciso, para evitar a frustração e as broncas.
Em segundo lugar, você não deve cair na armadilha do tudo ou nada, pensando assim:
“Já que não consigo, ou meu filho é um preguiçoso ou eu sou uma mãe ruim”.
Na verdade, você não consegue porque não sabe que há duas funções executivas essenciais para que para que seu filho consiga dar essa resposta: o controle inibitório e flexibilidade cognitiva.
De forma resumida, a flexibilidade cognitiva é a habilidade de “pensar fora da caixa”, procurando soluções alternativas e caminhos diferentes para atingir certo resultado. O controle inibitório está ligado à substituição de reações automáticas por outras mais sofisticadas e adequadas às situações.
Quando alguém está ensinando qualquer coisa para uma criança, precisa induzi-la a pensar fora da caixa (usar a flexibilidade cognitiva) e a parar o que está fazendo para raciocinar a melhor resposta (usar o controle inibitório). Caso contrário, a tarefa se torna do adulto: Alguém mais velho e que já conhece as respostas passa a ditar o que deve ser escrito. Aqui mora um grande perigo.
Para ajudar seu filho a de fato raciocinar, tente esses passos:
- Quando observar o erro na atividade, não indique onde está o erro. Diga, com seriedade “Observe a questão e veja onde pode estar errado”.
- Ajude seu filho a ampliar o olhar sobre a pergunta, dê informações ou “dicas” sem dar a resposta.
- Use um cronômetro ou ampulheta, estabelecendo um tempo para que ele raciocine antes de responder. Após a leitura da pergunta, ele só pode responder após pensar por “x” segundos.
- Se ele disser que não entendeu, peça que leia em voz alta e explique quais palavras ele não compreendeu. Certifique-se de que ele faça a leitura sempre por conta própria.
- Encoraje-o a prosseguir sempre que ele realmente usar o raciocínio, mesmo que a resposta não esteja completamente correta. Se você percebe que ele se esforçou e se aproximou da resposta com as palavras que conseguiu, diga que o caminho é por aí!
- Se mesmo depois de reler a própria resposta, ele não encontrar o erro, ofereça o material onde está a resposta para que ele próprio pesquise e tente fazer. Mas não faça por ele!
Não basta você dizer “faz assim” ou “faz assado”. É preciso fazê-lo pensar sobre todos os aspectos do que está aprendendo e adequar sua resposta ao que a questão pediu.
Espero que seu cansaço diminua daí, entendendo que ninguém dá conta de tudo e que quanto mais você souber sobre o desenvolvimento da sua criança, maiores as chances de evitar as dificuldades entre vocês agora e no futuro.
Com afeto, Letícia.