A dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, Paola Pomerantzeff, explica que “a partir do momento que aparecem os primeiros cabelos brancos, esses fios aumentarão em número ao longo de anos, de forma progressiva. Existe uma regra que diz que metade da população perderá 50% da cor de seus cabelos aos 50 anos de vida.”.
A minha realidade, porém é outra: pertenço a uma família em que os cabelos brancos aparecem precocemente, ou seja, fui abençoada (#sqn) com esta genética. Desde cedo sabia que os danados iriam vir mais cedo do que eu imaginava. Assim, antes mesmo dos 30 anos já tinha uma pequena coleção de fios grisalhos estampados na cabeça.
No começo arrancava todos os fios, em uma tentativa frustada de fugir do meu destino já determinado. Entretanto, depois dessa fase inicial de negação, veio a paulatina aceitação…
O processo de aceitação
Nunca usei nenhum tipo de tintura nos cabelos e não queria enfrentar os dissabores que a tinta ocasiona nem entrar para a estatística de reclamações: “a tinta resseca os fios”… “nunca consigo a cor exata do meu cabelo original”… “tenho que pintar os cabelos de 15 em 15 dias”… “sou escrava da tinta de cabelo”… enfim… a lista de lamentos é infindável!
Assim, me vi diante de duas alternativas: ou coloria os fios ou aceitava os cabelos brancos.
Após ler um texto que dizia que a natureza é perfeita – nascemos com o cabelo da cor ideal para nossa pele e que o cabelo ao perder a cor continua se harmonizando perfeitamente. Bingo!!! Era a confirmação que eu precisava para ter a certeza de que estava tomando a decisão correta.
A crítica externa
Tomei a decisão para mim e para meus cabelos, mas e outros? Não demorou muito e logo as pessoas a minha volta começaram a se incomodar com meus cabelos brancos.
Vez ou outra ouvia: “Você não vai pintar os cabelos?”. E, eu, certa da decisão, respondia que não, que iria assumir meus cabelos brancos.
E, como reação a minha resposta sempre ouvia:
– “Você está louca!!! Como vai deixar os cabelos brancos?”
– “Cabelo branco vai te deixar mais velha.”
– “Isso é coisa de mulher desleixada.”
– “Cabelos brancos é sinal de descuido.”
Ou, ainda, a pior de todas: “Homem de cabelos brancos é charmoso, mulher é mal cuidada!”. A partir destas falas, percebemos o quanto nossa sociedade é arraigada de preconceito, machismo e de um ideal de juventude que não é verdadeiro e não nos representa.
Iniciativas que apoiam mulheres neste processo de aceitação
Apesar de toda essa crítica social, há iniciativas cujo objetivo é apoiar mulheres nessa busca pela aceitação dos fios brancos.
O Grombe é uma comunidade de mulheres dedicada a celebrar o fenômeno natural dos cabelos grisalhos, prateados, brancos na mulher comum. Traz história de mulheres que incentivam esse processo e mostram como podemos ser elegantes e belas exibindo uma cabeleira grisalha.
Também percebo que nos últimos anos várias mulheres tem declarado não a tintura e assumido seu protagonismo como donas de seus fios brancos. Essa verdadeira revolução acaba incentivando outras mulheres, insatisfeitas com a escravidão da tinta, a também decretaram o fim do tingimento.
Na última semana de maio, a atriz Preta Gil publicou nas suas redes sociais uma foto com um mecha de cabelos brancos: “Aquele ditado “respeite meus cabelos brancos“ Então!!!
Tá tendo!!! Tô amando minha mecha grisalha, não pretendo pintar por hora não”, escreveu a atriz na legenda.
Desmistificando um padrão
O que eu percebo é que os fios brancos não influenciam a minha feminilidade nem a minha autoconfiança. Ao contrário, me sinto bem confiante com meus cabelos brancos.
Na verdade, eu tirei o foco dos cabelos brancos, pois entendo que um cabelo bonito é um cabelo bem tratado, com o corte em dia – não é a cor que define a beleza e a saúde do cabelo.
Creio que mais 30% dos meus fios já estão brancos e são bem visíveis. Mesmo assim, eu os ostento sem nenhuma insegurança, pudor ou vergonha. Afinal, nenhum daqueles rótulos que tentaram me aplicar colou.
Eu sei que sou uma pessoa de personalidade forte e muita opinião, talvez para outras mulheres não seja tão fácil, mas entendo que a valorização e a aceitação dos cabelos brancos é uma forma de mitigar esse preconceito e se reconhecer independentemente de um “padrão”.
A aceitação parte de uma compreensão do processo natural da vida de que não existe juventude eterna! Todos esses padrões de beleza que nos são apresentados não tem espaço em todos os corpos e lares. Ir contra o que é convencionalmente aceito como uma fórmula perfeita não é fácil, mas é libertador!!!
Hoje, amigas minhas que no início criticaram minha postura têm confessado o desejo de fazer o mesmo. Acredito não tem certo ou errado, apenas o que é certo para cada uma. Nos aceitarmos e compreendermos que somos belas justamente porque somos diferentes é o primeiro passo para construir uma identidade própria, pautada naquilo que é e que tem valor para cada uma. Acredito que essa consciente aceitação é uma etapa importante para valorização da nossa autoimagem com cabelos brancos, sim!
Uma eterna estudante, apaixonada pelas linhas: as escritas e as bordadas. Compartilha sua paixão pela etiqueta como uma forma de espalhar pequenas gentilezas e delicadezas pelo seu caminho.
Tem como propósito disseminar a etiqueta como uma ferramenta inclusiva capaz de potencializar as conexões humanas.