Com produtos à base de rapadura, engenho centenário mantém tradição no município de Água Branca

O Sertão de Alagoas tem sido cada vez mais procurado por alagoanos e visitantes interessados em conhecer novos destinos turísticos. No município sertanejo de Água Branca, cidade marcada pela beleza de prédios históricos e pelo frio que se torna mais um atrativo do destino, durante o período de inverno, o Engenho São Lourenço é um dos espaços mais visitados por quem está de passagem ou hospedado alguns dias na região.

Neste ano, o engenho que é considerado patrimônio cultural e gastronômico da cidade comemora 100 anos de história. “No início do ano de 1920, meu avô fundou esse engenho lá na Serra do Canto, onde ele morava. Naquela época, eram duas juntas de bois que moviam esse engenho, que produzia rapadura, mel e alfenim. Às vezes, eles faziam farofa porque tudo era adoçado com rapadura. Eles faziam bolos com rapadura”, conta Maurício Brandão, atual proprietário do engenho.

O empresário relata que, na segunda metade do século XX, o avô transferiu o engenho para a região urbana de Água Branca. “Na década de 1960, quando veio energia para a cidade de Água Branca, meu avô construiu um engenho dentro da cidade, onde hoje funciona a atual garagem da Prefeitura. Esse engenho funcionou até a década de 1980. Depois do falecimento dele, eu larguei o curso de Engenharia e vim para a cidade de Água Branca. Na década de 2000, eu tentei resgatar essa tradição de produção de rapadura, mas com outros moldes”, relembra.

Para dar continuidade ao trabalho que foi realizado pelo avô no século passado, mas com um toque pessoal, o empresário Maurício Brandão começou a construir um novo engenho e a colocar em prática todas as ideias colocadas no papel. “O meu avô sempre quis produzir rapadura grande, mas o meu sonho era produzir ‘rapadurinha’. Então, eu plantei cana-de-açúcar, aluguei engenho de vizinhos e fiquei dois anos com ele. Quando eu terminei o meu engenho, a gente começou a pôr em prática tudo aquilo que eu pensava”, recorda.

Sabor de rapadura

Atualmente, além de produzir rapadura, açúcar mascavo e alfenim de forma orgânica, o Engenho São Lourenço também conta com um restaurante que tem um cardápio recheado de pratos típicos da culinária sertaneja, além de um produto que já se tornou uma das principais marcas do empreendimento: o sorvete de rapadura.

“Essa parte gastronômica que a gente teve que agregar ao engenho, construindo o restaurante, foi a pedido de clientes que chegavam aqui para visitar o engenho e queriam lanchar. Naquela época, eu já vendia pastéis com sabores diferenciados, como o de carne de bode, e caldo de cana”, explica.

“A proposta do restaurante veio para agregar mais valor. E com a chegada do restaurante, chegou também o sorvete. Na sorveteria, sempre estamos produzindo sorvetes artesanais e paletas artesanais à base de rapadura. Já a produção de rapadura é sazonal, a gente inicia em meados de setembro e vai até março. E no restaurante, além de sorvetes, fomos colocando pratos regionais, como a tilápia do São Francisco, produzida com mel de engenho, queijo coalho e banana, além dos que já existiam que é a galinha de capoeira, o bode guisado e o churrasco de bode”, complementa o proprietário do Engenho São Lourenço.

O Sebrae Alagoas faz parte dessa história

Com a expansão do negócio, o empresário decidiu buscar apoio do Sebrae Alagoas para promover algumas adequações na estrutura física do engenho e na fabricação e apresentação dos produtos.

“A coisa foi crescendo e a gente viu a necessidade de chamar o Sebrae para nos orientar em tudo. Na época, a gente só tinha aqui o alvará de funcionamento do município, mas as licenças ambientais, do Corpo de Bombeiros, tudo isso fizemos com o apoio do Sebrae. O Sebrae chegou aqui e adequou a cozinha de acordo com a Vigilância Sanitária. Na sorveteria, nos orientou na questão da tabela nutricional dos produtos. Então, fomos nos adequando e crescendo nesse sentido”, descreve.

“O Sebrae também nos ajudou na parte de design, de apresentação do produto. Hoje, nós usamos caixinhas, rótulos e embalagens. Melhoramos a apresentação não só do produto, mas também na parte de estrutura física do prédio do engenho. Também houve melhoramento na parte higiênica, mas a rapadura que nós produzimos é a mesma da época dos escravos, da época do Brasil colônia”, acrescenta Maurício Brandão.

Reconhecimento

O empresário acredita que o sucesso do engenho está relacionado ao resgate de uma parte da história e da cultura do município de Água Branca. “Esse reconhecimento se deve ao resgate da cultura, da revitalização da produção de rapadura na região. Nós tínhamos aqui vários engenhos e a gente revitalizou isso. Nessa revitalização, a gente apresentou um produto de qualidade, higiênico, realizamos o melhoramento genético da cana-de-açúcar com outras variedades e tentamos inovar com responsabilidade, com qualidade. Água Branca cheirava a mel de engenho e a gente tentou resgatar isso”, defende.

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