De acordo com Regina Japiá, psicóloga da Maternidade Escola Santa Mônica (MESM), a gestação é por si só um período de grandes mudanças na vida da mulher, pois ela passa por um intenso processo de alterações corporais e transformações psíquicas, que resultam em uma maior sensibilidade e algum nível de estresse e ansiedade.
“Na gestação tudo muda, seu corpo, agora grávido, toma outros contornos, assim como seu estado emocional, um misto de alegrias, medos e inseguranças fazem parte deste momento. Gestar durante a pandemia representa um duplo desafio, porque traz novas preocupações e uma necessidade urgente de se adaptar a um cenário ainda desconhecido”, explica.
A psicóloga destaca que as variações de humor durante a gestação são naturais, em virtude das alterações hormonais ocorridas nesse período, mas alguns comportamentos merecem mais atenção por parte da família, como tristeza, ansiedade, crise de choro, distúrbio do sono, excesso ou falta de apetite, pensamentos de morte ou suicídio entre outros. “Se estas ou quaisquer outras variações se mantiverem por semanas ou meses, a mulher deve conversar com seu obstetra para avaliar a situação e verificar se pode estar com depressão”, orientou a psicóloga.
Ela ressalta ainda que as gestantes com histórico de distúrbio emocional podem ter sintomas agravados devido à pandemia e a rotina de isolamento, distância do trabalho, dos amigos e da família. “Gestantes que já têm algum comprometimento psicológico, como a depressão, por exemplo, percebem a solidão e as tensões causadas pela pandemia de forma muito mais intensa”, destacou.
Regina conta que tem recebido muitos casos de gestantes e puérperas com problemas psicológicos devido ao isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19. Por esse motivo, a psicóloga alerta que é preciso estar atenta, pois existe uma estreita relação entre o estado emocional da mãe durante a gravidez e a vida uterina. “Estudos indicam que o estresse e as emoções maternas podem provocar reações hormonais e variações no fluxo sanguíneo do útero. Na verdade, não são exatamente suas emoções, sentimentos e pensamentos que afetarão seu bebê, mas sim como seu estado emocional afeta sua regulação hormonal e, consequentemente, o meio intrauterino” esclareceu Regina.
O estresse pode alterar 6 tipos de hormônios – cortisol, glucagon, prolactina, testosterona, estrogênio e progesterona -, cujas oscilações pode afetar a gestante e o bebê. “O sistema imunológico fica mais vulnerável, o que aumenta as chances de infecção. Depois de entrar na corrente sanguínea, os hormônios alcançam a placenta, que é a conexão vital do bebê com a mãe por meses. Por sua vez, esse conjunto de hormônios aumenta excessivamente o ritmo da criança”, explicou Japiá.
Para melhorar a situação, a psicóloga salienta que a gestante ou os familiares não devem negar ou desprezar os sentimentos, mesmo os negativos como decepção e tristeza, e pontua:
“Não os encare como fúteis e sem sentido. Estar decepcionada, frustrada e triste por não conseguir celebrar sua gravidez com pessoas queridas é esperado e a impossibilidade de contar com sua rede de apoio podem gerar angústia e aumentar a sensação de solidão provocada pelo isolamento. Tente se distrair e planejar rotinas diárias. Horário regular para dormir, acordar, trabalhar e hábitos de lazer podem auxiliar na adaptação ao cenário atual e diminuir o estresse e sua ansiedade”.
A rede de apoio social tem um papel fundamental para essas pessoas. A vivência da gestação na pandemia deve ser a mais positiva e protegida possível. Por isso é imprescindível estimular a expressão das emoções e preocupações, acolher e validar os seus sentimentos. “Ao observar pioria no estado mental e emocional, deve buscar um profissional de saúde mental para avaliar”, conclui a psicóloga.