Relato de uma mãe:
Quem nunca, na correria do dia a dia, sentiu ódio daquela criança na fila do banco/lotérica/supermercado que não parava de chorar ou gritar? Eu já. E acredito que você também. Muitas vezes a gente pensa “cadê a mãe dessa criança para calar a boca dela?”, mas nós não pensamos na mãe, né?
Lembro quando eu era mais nova e estava em uma agência de banco esperando ser atendida, e lá havia uma criança chorando, mas chorando muito. Muito mesmo, por uns 15 minutos. Eu saí de lá com a certeza de que o inferno era aquilo: Espera de banco com choro de criança. Durante a espera, acabei lançando alguns olhares descontentes para a mãe, que coitada, é a maior injustiçada nessas situações.
“Malcriado”, “A mãe não educa”, “Precisa de mais palmada”. São frases ditas como se a forma de criação da mãe não importasse: o importante mesmo é a criança aprende a não chorar publicamente. São crianças! Imaturidade cerebral está aí e não devemos esperar crianças quietas e comportadas que falam “Mamãe, não gostei de você ter me negado um biscoito por que eu ainda não almocei, mas vou esperar para ficar chateado mais tarde, quando não tiver ninguém por perto e eu possa conversar com você”.
Julgar uma mãe pelo comportamento da criança é desumano. Seja mãe solo, ou aquela que além da criança, também cuida do marido. Seja mãe de primeira viagem ou aquela ‘parideira’. Seja ela experiente ou nova. Seja mãe 24/7 ou aquela que estuda e trabalha, além de cuidar da casa e da cria. Todas, literalmente, todas as mães precisam de compreensão, pois elas doam todo o seu tempo e amor na criação dessa nova pessoa que vai compor a sociedade.
Tem horas que nós, mães, cansamos e deixamos a criança chorar porque sabemos que não vai adiantar explicar. Quando você ver uma mãe ignorar uma criança chorando, é porque aquela mãe está CANSADA (e tem seus motivos para ignorar aquele momento) e precisa de compreensão.
Sobre aquela mãe que julguei na espera da agência, hoje me vejo nela, e eu gostaria de ter lhe dado um abraço ao invés de olhares negativos. O filho dela devia ter uns 2 anos. Hoje eu, com o meu filho com 1 ano e 7 meses, acordo 4 a 5 vezes por noite para amamentá-lo (através da mamadeira, já que ele parou de amar ao 5 meses devido a minha rotina de trabalho estudos. Mas isso é assunto pra outra questão da culpa da maternidade que carregamos) e começo uma rotina de estudos e trabalhos, arrumação de casa e cuidados com a criança enquanto estou em casa. A partir das 6ham, onde geralmente meu dia termina quase sempre depois da meia noite, para novamente acordar 4 a 5 vezes durante a madrugada e despertar de fato às 6am novamente.
Não é fácil. O cansaço físico é fichinha quando comparado a culpa da – já citada – maternidade, de se sentir cansada e deixar a criança chorar porque você não sabe mais o que fazer. Quando o show é público, é muito pior. Então acolha uma mãe, não julgue, não critique e não palpite. Nós sempre estaremos fazendo o melhor pelos nossos filhos.
Relato de uma não mãe:
Lembro desde criança ter dentro de mim a vontade de ter um filho. Aos 15 anos, com meu primeiro namorado, corri o risco e entrei em pânico. Depois da vacilada, ali aprendi que um filho não era o melhor momento. Melhor era aos 20. Cheguei aos 20. Melhor aos 25. Aos 25. Melhor aos 30.
Hoje em dia, aos 31, casada, feliz, ainda não me vejo preparada. Porém mesmo sem filho, aprendi algo: não preciso ser mãe para poder apoiar e entender a dureza que é ser genitora em uma sociedade tão machista e incompreensiva com as mães. Antes, ao ver crianças chorando em lugares públicos, pensava o mesmo que a jornalista Bruna acaba de relatar; “esta criança não tem mãe não?”. E o pai, por que ninguém pensa se ela não tem pai para educá-la? Por que ninguém pensa que de repente a mãe fez de tudo para que não houvesse um show em publico, mas que a criança é um ser independente e, mesmo tão pequena, já tem caráter forte? Simples, porque nossa sociedade nos educa a não pensar na mãe como um se normal, que se cansa, que se frustra, que trabalha. Mae não é heroína de histórias em quadrinhos. É feita de carne e osso (o que muitas vezes parece ser o contrário).
Já julguei, já meti os pés pelas mãos, já olhei feio para mães conhecidas e desconhecidas, porém a vida é um eterno aprendizado e nisto tentei melhorar. Hoje em dia me ponho no lugar da outra, ainda que não me pareça possível, já que não tenho filho. Porém empatia é isso, é você se colocar no lugar do outro, mesmo sem saber ao certo como funciona a dinâmica alheia. É tentar não julgar, ou até mesmo julgar… Afinal somos humanos. Mas é julgar em silencio, é não levar este julgamento adiante, é tentar entender a dificuldade do outro.
Homem ou mulher… Não é preciso parir para entender a luta de uma mãe. É pensar na sua própria mãe e lembrar o quão forte ela foi inúmeras vezes. É escutar uma mãe. É comprar de uma mãe. É lembrar que uma mãe, antes de ser mãe, é mulher. É ter empatia.
Aqui deixo publicamente meu pedido de desculpas a todas as mães que um dia julguei. Peco desculpas por mim, e por quem está lendo neste momento.