Nesses tempos em que a inteligência artificial (IA) passou a fazer parte da nossa vida, somos cada vez mais recrutados a exercer a nossa principal habilidade humana: a capacidade de se comunicar, sendo assertivos de preferência.
Não estou falando em saber usar palavras rebuscadas no grupo da “firma” ou apresentar dados do MIT no café com as amigas. Nem de ter uma opinião sobre os fatos geopolíticos no almoço em família. Estou falando daquela tríade básica da comunicação: o que você (emissor) vai comunicar (mensagem) e para quem (receptor).
Eu sei que pode parecer simples, mas nem sempre é. Quantas vezes você entrou em uma conversa para resolver um problema ou apenas desabafar e saiu com relações estremecidas ou suas necessidades ignoradas? Comigo isso já aconteceu muitas vezes.
Saber dialogar de forma assertiva nunca foi tão urgente em nossa sociedade polarizada e sedenta por cancelamentos. Quantos de nós entram em uma conversa prontos para negociar e dispostos a ceder? A maioria encara as conversas difíceis como uma batalha. Esse padrão foi identificado e materializado por Friedrich Glasl, um economista e mediador austríaco, em um modelo que ele chamou de “Escalada do Conflito”. É quando uma ação desencadeia uma série de reações cada vez mais intensas, criando uma atmosfera de animosidade. Parece familiar?
O ponto de partida é sempre uma discordância, mas quando alguém tenta a todo custo provar que está certo, uma conversa trivial rapidamente evolui para uma discussão. E quando ambos estão “certos”, vira um confronto. As chances de entendimento vão ladeira abaixo e, em alguns casos, o réu primário também.
Como sair dessa cilada? Não há fórmula mágica. Mas há algo que você pode fazer para construir diálogos mais assertivos. Comece com uma simples pergunta a si mesmo: qual é a minha intenção? Você quer resolver algo ou apenas confrontar e descarregar sua frustração?
Se você tem a intenção legítima de buscar soluções, mantenha o foco na necessidade. Imagine que você e seu sócio estão diante de um problema: vocês têm um petshop e perceberam uma oportunidade de expandir o mercado ampliando o horário de atendimento até as 23h. Mas você está terminando aquela pós-graduação à noite e seu sócio não abre mão de estar com a família. Para você, a melhor solução seria contratar um funcionário. Mas seu sócio é o responsável pela parte financeira da empresa e uma pessoa conservadora; ele levanta todos os prós e contras e não aceita correr o risco de assumir novas despesas trabalhistas sem um fluxo de caixa apropriado.
Em um cenário pessimista, vocês entram na espiral. Fim da história e o começo de um conflito que pode durar até que a sociedade acabe. Mas em um cenário mais assertivo, seu sócio faz uma proposta: remanejar um funcionário para o turno da noite e, durante o dia, você e ele se revezam na recepção e testam esse novo modelo até terem segurança para ampliar a folha de pagamento. O problema foi resolvido? Sim! Mas não da forma como você esperava. Você só precisou renunciar à estratégia que tinha em mente. Mas a necessidade – testar um novo formato de atendimento e aproveitar uma oportunidade de mercado – foi preservada e atendida. Percebe a diferença? O problema é que nós insistimos em brigar pela estratégia.
Para que a nossa comunicação seja assertiva, precisamos nos conectar com as pessoas de maneira intencional e aceitar que nem tudo será sempre “ganhar ou perder”. Isso vai muito além de saber utilizar as palavras. Estamos falando de algo mais sutil, que é a capacidade de percebermos a nós e aos outros durante os nossos diálogos.
Então, na próxima conversa, pergunte-se: qual é a minha real intenção aqui? E lembre-se: a chave para uma comunicação eficaz está na intenção genuína de entender e ser entendido. Vamos praticar isso juntos?
Fabrícia Carneiro Fernandes. Jornalista, gerente de Marketing, mãe da Maria, esposa, apaixonada por esportes e imersões na natureza. Há 23 anos ajudo empresas a fortalecerem suas marcas, convergindo pessoas e performance, por meio do marketing de serviços e com propósito. Quanto mais me conecto com o outro, melhor conheço a mim mesma e compartilhar conteúdo é uma forma de ampliar essa rede e fazer novos mergulhos.
Excelente reflexão! Sugestão aceita, vamos praticar!