Em 2013, quando fiz o meu 1º curso de recém-nascidos (Newborn) fui orientada a comprar uma infinidade de materiais, incluindo a cor do puff que precisava ser branca. Até hoje não compreendo os motivos, já que o puff é coberto por camadas de mantas.
Muita dedicação e dinheiro investido.
As poses tinham que ser específicas, as roupinhas de todas as cores possíveis, diversos props e acessórios.
Nada sustentável, muito menos minimalista.
Era um Newborn engessado por algumas regras de uma profissão emergente.
Os anos foram passando e a fotografia Newborn (que chegou no Brasil há 8 anos) foi se transformando aos poucos, o mercado foi crescendo e muita coisa mudou.
E por que esse contexto é importante?
Porque eu quero compartilhar aqui, uma grande transformação na minha fotografia de recém nascidos.
É algo que já estou fazendo, mas que vou expor de forma gradativa.
Tenho certeza que vai inspirar muitas pessoas, trazer alívio a colegas fotógrafos e responder diversas perguntas.
No mundo das artes (do qual eu faço parte) existe o processo de amadurecimento do artista. E isso acontece através das experiências vividas e da imersão em situações que favoreçam o aperfeiçoamento em todas as áreas.
Esse desenvolvimento sensitivo e técnico refletem diretamente na construção de identidade e linguagem.
A evolução constante se dá por meio do acesso à cultura, música, exposições, viagens, literatura, cursos e infinitos fatores.
Assim acontecem os “saltos evolutivos” que afetam seu olhar e gosto como pessoa.
O que nos faz tão diferentes um do outro.
E esse processo se repete em ciclos que podem acontecer em diversos momentos da vida.
Eu lembro, claramente, de passar por três desses saltos de desenvolvimento durante minha carreira.
Nesses 12 anos como fotógrafa, estou indo para o meu quarto ciclo.
A diferença de agora para os outros, é que entro nele muito mais segura e sem medo de ser feliz, pois já está sendo um sucesso.
Ao longo do últimos anos eu buscava uma fotografia Newborn clássica, mas atemporal.
E com isso comecei a fazer algumas perguntas:
– será que daqui a 20 anos essas fotos ainda serão bonitas e atuais?
– será que eu preciso mesmo usar tantas coisas em uma sessão Newborn?
– será que eu não consigo reduzir o tempo de sessão?
Baseada nessas questões (e mais tantas outras) ao longo de 1 ano e meio eu fui estudando algumas referências.
Eu procurei fora do Brasil e identifiquei pontos que gostava em cada uma das profissionais.
Então, deixo claro que não trata-se de uma evolução técnica, e sim de um refinamento no estilo.
Atualmente eu trabalho com o bebê no wrap, enroladinho ou semi-enroladinho (parece que ele está pelado, mas está de fralda), no puff com o suporte para posicionar o bebê.
Eu priorizo a reprodução de poses mais suaves, que remetem ao ambiente intrauterino, ou seja consigo resolver ainda no sono REM.
E as fotos com os pais e irmãos, se quiserem.
O que mudou então?
– Não utilizo mais props, cestas e baldes.
– Não utilizo roupinhas!
E você quer saber como as clientes estão percebendo essa transição?
Só posso dizer que de uma forma muito positiva!
Faz parte do meu trabalho, sempre observar e entender os meus clientes e suas vontades. A maior parte do público que atendo deseja algo orgânico, mas com todos os detalhes fofos. Eles pensam em algo que não seja invasivo, mas que aconteça e forma mais suave.
Que seja em casa, mas ainda com toda a segurança.
Escutar o cliente é um dos pontos que faz parte desse processo evolutivo.
Estou encantada com essa nova maneira de trabalhar e muito mais estimulada!
Feliz com os resultados até aqui.
Essa foi a minha quarta transição na fotografia de recém-nascidos.
Espero que esse estilo de Newborn também seja inspiração para os fotógrafos, especialmente aqueles que se encontram sem o brilho nos olhos para que assim, possam contar com novas possibilidades.
Documentarista das lembranças que os filhos vão ter no futuro, Elysée é jornalista, especialista em fotografia e artes. Membro da Associação Brasileira de Recém-Nascidos, realiza sessões newborn atemporal e fotografia de partos documentais. Pesquisadora do poder das imagens como transformação social, acredita que as fotografias podem estimular vínculos, atuando no âmbito psicossocial, despertando sentimentos, informando e empoderando indivíduos.