Escrever para mim nunca foi um problema, mas escrever um conto se tornou um. Sempre gostei muito de ler e acho que isso de certa forma influenciou a minha facilidade com a escrita, afinal o binômio leitura-escrita estão intimamente interligados em uma relação de causa e conseqüência.
Todavia, meu gênero textual predominante na escrita sempre foi o artigo, principalmente, o artigo de opinião. Nesta categoria, há certa liberdade para a exposição das ideias e não existe uma estrutura muito técnica do ponto de vista da apresentação do texto. É claro que alguns requisitos específicos estão presentes no artigo e precisam ser observados, mas sinto que há uma autonomia e uma mobilidade maior na elaboração do texto.
Acreditava que, por essa minha experiência com a escrita, seria capaz de escrever qualquer coisa, mas, hoje, confesso que estava muito enganada. Ou melhor, completamente equivocada. Só percebi minha incipiência com a escrita quando fui desafiada a escrever um conto. Nunca tinha me imaginado escrevendo um texto de ficção.
Eu e algumas amigas nos propusemos a redigir um pequeno livro de contos e cada uma deveria contribuir com um… conto. Teríamos um mês para entregar a primeira versão. Como todas eram inexperientes com o estilo de escrita proposto, providenciamos um professor para nos iniciar neste novo campo que estávamos adentrando e procurando desvendar. Aula dada, dicas anotadas e nada de criação, ou melhor, de redação.
Acho que estava esperando uma centelha de inspiração para que pudesse começar a redigir meu conto. E nada. Travei. Não conseguia ter uma idéia, fazer um recorte de uma história. Fiquei tensa. Preocupada. Angustiada. O fim do prazo se aproximava e eu não havia escrito uma linha, na verdade, nem uma história eu tinha para contar. Foi assim que descobri que o campo ficcional é desafiador. O tema central do meu conto era a elegância feminina. Eis aqui mais um desafio: considero-me uma pessoa super simples, como falar de toda essa elegância?
Resultado de todo o meu drama: redigi meu conto um dia antes da data combinada para entrega. Ao final, li e reli meu texto várias vezes. Aparentemente, estava satisfeita. Então, pedi para meu marido ler (ele, um crítico contumaz): aprovado! Mas, ainda, estava muito insegura com a minha produção; enviei para uma amiga leitora: aprovado! Após, esses retornos positivos, fiquei mais confiante e segura.
No dia seguinte, faríamos a leitura dos nossos contos em um encontro virtual especialmente preparado para isso. Fui uma das últimas a ler o conto – confesso que estava postergando essa hora. Após a leitura, ufa! Que alívio ver a reação favorável e positiva do grupo. Houve uma identificação com meu texto. Isso significou uma validação da minha primeira escrita ficcional – algo que me encheu de alegria e confiança para continuar a produzir este tipo de narrativa.
A partir da minha experiência, convido você a também escrever um conto. Para facilitar seu processo seguem algumas dicas:
- Lance todas as IDEIAS sem filtro. Depois, correlacione-as da forma mais adequada. Inicialmente, nenhuma ideia deve ser desprezada.
- Defina os PERSONAGENS (pessoas que querem e buscam algo no enredo).
- Crie um CONFLITO (crie um problema que irá se desenrolar ao longo da história – ele pode ou não ser resolvido no final da trama).
- TEMA ESPECÍFICO (cada uma já escolheu o seu assunto)
- PLANEJE A HISTÓRIA (determine pontos e trajetos por onde a personagem vai percorrer – uma sequência de cenas.
- Defina um CLÍMAX (ponto-chave do enredo: algo que seja revelado e que surpreenda o leitor).
- DESFECHO surpreendente. Jamais explique a moral do seu conto, deixe subentendido.
- Escreva, escreva e reescreva!
Agora a dica de ouro: saiba o final da sua história desde o começo, ou seja, antes de começar a escrever um conto é importante já ter em mente como se quer encerrá-lo.
Após essa experiência, descobri que a nossa capacidade é superior àquilo que acreditamos ser capazes de fazer. Desafiar-se é muito importante, navegar por outros mares e se aventurar em novos destinos é essencial para que possamos crescer e conhecer nossas limitações, mas, sobretudo, nossas potencialidades. Escrever um conto foi provocador, estimulante e instigante. Na verdade, foi um grande estímulo que aguçou uma enorme vontade de encarar a produção de outros gêneros literários. Esse despertar é muito valioso, e hoje me inspirou a escrever uma espécie de “artigo-conto”.
Uma eterna estudante, apaixonada pelas linhas: as escritas e as bordadas. Compartilha sua paixão pela etiqueta como uma forma de espalhar pequenas gentilezas e delicadezas pelo seu caminho.
Tem como propósito disseminar a etiqueta como uma ferramenta inclusiva capaz de potencializar as conexões humanas.