O Halloween, ou Dia Das Bruxas acontece no dia 31 de Outubro no hemisfério norte. Esse mês é permeado por muitas séries de terror nas plataformas digitais, muito anseio por fantasias criativas de monstros e também muita contação de histórias horripilantes. O que a maioria das pessoas não sabe é que o dia das bruxas de hoje na verdade, é uma versão moderna e distante de antigas práticas espirituais e culturais de povos pagãos da era pré-cristã. A origem do dia das bruxas é o Samhain (O Ano Novo Celta dentro do calendário Druida), a chegada do inverno. Onde tudo fica frio, seco e escuro. Mas para entender o Samhain é preciso também entender a forma como os celtas olhavam para o mundo.
Antes da consolidação do cristianismo e do Ocidente como um todo, o povo celta – assim como outros povos em outros lugares do mundo – tinham uma cultura voltada à ligação com a natureza. Tudo partia da observação do ritmo da Terra, do comportamento dos bichos, dos ciclos dos vegetais, das estações do ano e do próprio ser humano. Eles entendiam que todas as coisas estavam interligadas. Sendo assim, faziam também muitas analogias entre os acontecimentos na natureza e sua própria vida cotidiana. A primavera era Cadlemas ou Imbolc, o verão Beltane, o outono era Lammas ou Lugnasadh e o inverno Samhain. Além disso havia os equinócios, totalizando 8 Sabaths: 4 maiores e 4 menores.
Cada estação do ano trazia um ensinamento, uma energia, uma força à ser captada e aplicada.
Os celtas eram politeístas. Sendo assim, o Deus dos celtas eram uma única força criadora e geradora de tudo que continha dentro de si princípios masculinos e femininos e que se fragmentavam em muitas deidades com características diferentes. Deus podia ser homem e também mulher. A própria natureza era encarada como a manifestação máxima da Deusa em toda a sua potência geradora, nutridora e acolhedora.
No Samhain, dado o contexto natural da aproximação do extremo frio e escuridão, onde as plantas estavam secas, os animais refugiados, as águas congeladas e as tribos abrigadas, era o momento de voltar-se para dentro física e simbolicamente. Isso significava entender que faz parte de um ciclo o final e o começo, a vida e a morte, o verão e o inverno, a alegria e a tristeza, ou seja, a dualidade. Para eles, o véu entre a vida e a morte estava mais fino nessa época e a comunicação entre os dois mundos ( dos vivos e dos mortos ) seria mais fácil. Muitos rituais eram realizados tanto para falecidos como também para crianças que iriam nascer, assim como banimento de espíritos indesejados. Os animais velhos que não resistiriam ao frio profundo eram sacrificados e tinham sua carne estocada. Era o momento de voltar à si, refletir na sua linhagem, na sua história e sombras, por que a própria Terra estava fazendo isso. No Samhain a deusa Cailleach era cultuada. Era representada como uma velha de cabelos brancos com um machado na mão, a ceifadora de coisas que precisavam morrer para dar lugar ao que viria.
A abóbora era utilizada para afastar presenças belicosas do lar e da comunidade. Eram utilizadas como lanterna na noite de Samhain e penduradas na frente das casas com velas dentro.
Com a chegada da cristianização desses e de muitos outros povos, houve uma tentativa de apagamento dessa cultura. E gradativamente as noções de ligação com a Natureza e todo o seu simbolismo foi sendo deixada de lado. Algumas festividades e costumes religiosos foram proibidos por não serem compatíveis com a bíblia e quase foram apagados totalmente. O Samhain foi se tornando o Halloween ou “All Hallowns Eve” (a noite de todos os Santos) melhor aceito pela religião vigente. A comemoração que vemos até os dias de hoje.
Muitas das pessoas queimadas em fogueiras pertenciam ainda à essa tradição celta ou tinham na sua vida costumes herdados desses ancestrais.
No entanto paralelo à isso, essa forma de viver e ver a vida resistiu. Seus ritos foram praticados secretamente durante muito tempo até que no SÉC XX por volta de 1900 na Inglaterra, Gerald Gardner, considerado o pai da Bruxaria Moderna, criou uma releitura desses cultos e fundou a Wicca, que é um resgate de antigas práticas e noções espirituais celtas, onde esse sistema de festividades e fases do planeta foi chamado de Roda do Ano. Wicca deriva de ” Wicce” que daria o vocábulo ” Witch ” em inglês ou Bruxa, que significa essencialmente Sabedoria. Gardner foi um estudioso de Antropologia, História, Geografia. Era funcionário público e compartilhou suas pesquisas a respeito dos celtas com a finalidade de retirar das bruxas o estigma deixado pelo cristianismo. Desde então muitas ramificações dessa antiga religião surgiram e muitas escolas de bruxaria moderna do hemisfério Sul preferem festejar Samhain no dia 30 de Abril para ser mais coerente com o clima natural.
Portanto, além de ser o que é hoje, o Halloween tem sua face ancestral religiosa que é vivida e praticada por muitas pessoas que podem ser chamadas de Neo- Pagãs ou simplesmente Bruxas (os).
- https://scholar.google.com.
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