Viver em sociedade, dentro dos padrões por ela impostos, por vezes não é fácil. Viver nesta mesma sociedade com rótulos ‘’fora da curva’’, seja pela sua orientação sexual, sua forma de se vestir ou se comportar torna-se muito menos fácil. Entre curvas e regras, encontramos um dos mais recentes termos relacionados à opção sexual: as pessoas trans.
O termo, originado lá pelos anos 80, define a condição da identidade de gênero dos que não se identificam com seu sexo biológico. Por exemplo: Maria nasceu menina, porém desde criança vê-se como um menino; tem gosto mais masculinizado, identifica-se com vestimentas masculinas e tem pensamentos masculinos. Maria, quando cresceu, se identificou como transgênero, pois ela não se identifica como uma menina – já que nasceu menina e, sim, como um rapaz.
Transgêneros no Brasil
Entre Marias e Josés, segundo o relatório da ONG internacional Transgender Europe, a transfobia, ato violento e preconceituoso contra transgêneros é de causar preocupação no Brasil. Entre 2008 e 2014, 606 travestis e transexuais foram assassinados em terras tupiniquins. E não para por aí: só este ano 50 transgêneros foram assassinados até o mês de abril no Brasil. A cada cinco ou seis transgêneros assassinados no mundo, quatro são brasileiros. Dados alarmantes, visto que nosso país prega a liberdade de preconceitos de raça, cor, religião e afins. Contudo, nem tudo é negativo para tal. Nos últimos anos, o termo foi bem aceito e, junto a ele, famosos juntaram-se à causa – simpatizantes e próprios transgêneros, como Thammy Miranda, a cartunista Laerte Coutinho, entre outros.
Caso Bruce Jenner
E entre famosos transgêneros, nós acompanhamos o início da transição do ex-atleta olímpico Bruce Jenner, hoje Caitlyn Jenner. Após uma vida de vitórias como atleta, dois casamentos e seis filhos, Jenner decidiu tomar coragem de seguir o que sempre quis: dar voz ao seu lado feminino e viver como uma mulher. Aos 67 ele se torna porta-voz da classe e prova que atualmente a mídia tem-se mostrado à favor da conscientização e dado apoio a tal. Como parte do processo, Caitlyn estreou na TV americana um documentário/seriado “I am Cait”, onde mostra as dificuldades e conquistas em assumir sua sexualidade. Ela pauta reuniões com amigos transgênicos e mostra todo o processo de decisão – das transformações corporais através de hormônios e cirurgias à difícil conversa com seus filhos e pessoas próximas.
Dicas para não cometer possíveis gafes; como respeitar um transgênero
Certo de que nem todo mundo sabe lidar com diferenças e, talvez, não tenha contato próximo com pessoas que tenha opções sexuais diferentes das delas, às vezes cometemos gafes e acabamos por ofender alguém. Pensando nisso com o intuito contribuir com a erradicação do preconceito, a Revista DUE deixa aqui algumas dicas de como respeitar, no básico do básico, um transgênero.
- Respeite sua identidade de gênero – Se a pessoa que você conheceu decidiu mudar sua opção sexual, não cabe a você julgá-la. Aceitando ou não a decisão, restrinja-se a respeitar e tratar a pessoa com cordialidade;
- Cuidado com a forma como você se refere ao passado – Evite ao máximo citar algo, como ‘’quando você era do gênero oposto’’ ou ‘’quando você ainda era homem/mulher’’. Soa rude. Caso queira referir-se ao passado, fale “quando você era criança”, ou “quando você era adolescente”. Caso seja necessário falar sobre a transição, seja claro e expresse ‘’antes do início de sua transição”;
- Use a linguagem apropriada ao gênero da pessoa – Ele agora é ela? Use termos femininos. Ela agora é ele? Use termos masculinos;
- Não tenha medo de questionar – A pessoa te deu liberdade de fazer perguntas? As faça. Será a melhor opção para você entender os motivos dele(a) ter decidido por tal mudança;
- Respeite a privacidade sexual – Obviamente não saímos perguntando a qualquer um sobre sua vida sexual. Não é porque alguém fez uma transição de sexo é que você vai abrir um caderno de perguntas sobre sexo e jogá-lo nos braços do outro;
- Comece a reconhecer a diferença entreidentidade de gênero e sexualidade – não presuma que o gênero de uma pessoa se correlacione à sua sexualidade —não é assim. Há pessoas transexuais heterossexuais, gays, lésbicas, curiosas e assexuais. Se a pessoa revela a você a sua orientação sexual, use os termos que ela usar;
- Trate as pessoas transgêneros da mesma maneira – enquanto ela pode gostar da atenção extra que você a dá, sem dúvida o ato de exagerar não será tão apreciado. Depois de estar bem informado, cuide para não se exceder. Pessoas transexuais têm essencialmente a mesma personalidade que tinham.
Flávia Motta é jornalista, tradutora e professora de idiomas. Nas horas vagas se arrisca a escrever nos idiomas os quais andou aprendendo nessa vida. É alagoana de nascimento e criação, e com orgulho, mas se considera passageira do mundo.