É muito curioso lembrar que antigamente o fotógrafo era esse ser quase mitológico que entrava nas nossas casas com seus equipamentos e registrava os momentos mais especiais de nossas vidas.
A gente precisava daquele profissional que sabia como manusear uma câmera e enquadrava perfeitamente elementos do ambiente com as pessoas presentes naquele momento.
Sem falar que mesmo quando as famílias podiam ter uma câmera ou acesso aos equipamentos, era difícil dominar os pontos essenciais de uma boa foto ou filmagem e às vezes não dava certo. O resultado eram imagens inusitadas ou bizarras num filme de 36 poses (supervalorizado por ser um item caro).
Eu mesmo guardo com carinho memórias da minha mãe em tentativas infinitas de fotografar e filmar a gente nas apresentações do colégio. Um pouco ela gravava, outro pouco chorava, prestava atenção na câmera e depois na apresentação (e esse era o momento que o chão ganhava 05 minutos de foco).
Enfim, esses eram alguns dos motivos de um fotógrafo ser tão essencial e requisitado, mas os tempos são outros!
E hoje eu me pergunto, o que leva uma pessoa a contratar um fotógrafo?
Não é novidade pra ninguém que os Smartphones fazem fotos realmente boas (o último iPhone faz maravilhas).
E muitas vezes os clientes de um fotógrafo conseguem adquirir aparelhos potentes que estão acessíveis para comprar.
Apesar disso, se as pessoas por si mesmas podem ter uma foto “de qualidade”, onde entram os profissionais da fotografia, como eu?
Há muitos fatores, mas resolvi compartilhar os quatro que acho mais relevantes:
1. O olhar
Minha foto é a expressão do meu olhar. De quem eu sou e de como eu vejo o mundo.
E isso é único!
Quando aplico o conhecimento e métodos que aprendi ao longo da jornada como fotógrafa, o resultado é ainda mais exclusivo.
Acho importante enfatizar que até mesmo quando os clientes compram câmeras “profissionais”, o fotógrafo pode se diferenciar com lentes superiores que transmitem com maior fidelidade a essência e a qualidade do material vai ser superior também.
Nesse conjunto, a identidade fotográfica é o que atrai e encanta, a composição das fotos quando estou posicionando os bebês, as mamães ou vejo um detalhe que passa despercebido pela maioria, mas faz brilhar meus olhos.
Posso falar também da linguagem fotográfica? É algo bastante pessoal e cada fotógrafo tem a sua.
Quando contamos a história de nossos clientes, tem sempre uma característica única que vai traduzir melhor a mensagem que eu e eles temos para o mundo.
São muitos os detalhes que abrangem o olhar do fotógrafo.
2. Expectativa
Para muitas família esse é O momento!
O dia de fotos se torna um evento e normalmente são cheios de expectativas.
Eles desejam uma experiência inesquecível, feliz e com muito amor envolvido.
No caso de algumas mães, é o respiro da rotina da maternidade, das tarefas da casa e de todas as mudanças pelas quais ela está passando.
Nesse momento ela não vai fazer nada, além de sorrir para fotos, esmagar de beijos seu bebê e ser ela mesma.
Minha contribuição como fotógrafa é criar uma marca nessa família. Positiva e diferente de tudo que viveram.
Sem falar que o tempo que estamos juntos na sessão é a pontinha do iceberg de situações que acontecem com eles nas suas vidas e eu valorizo isso, extraindo em fotos da melhor forma.
3. Fotos bonitas cheias de significado
Claro! Hoje em dia não vale mais foto sem foco, de qualidade ruim, não é mesmo?
Se o meu cliente consegue fazer uma foto incrível com seu celular, o mínimo que eu posso oferecer é a qualidade nas minhas fotos.
Isso tem que ser uma questão resolvida para o profissional.
Ser hábil para garantir esse ponto é o básico como fotógrafo porque depois a construção daquela experiência vai dar conta de tornar inesquecível para a família.
E por que isso é importante? Para que quando eles olhem as fotos, sejam inundados do mesmo sentimento (bom) do dia da sessão fotográfica.
É gostoso perceber como as famílias valorizam esse momento, exatamente como uma recordação de um pedaço da história que eles estão escrevendo.
4. Empatia
Eu ainda não sou mãe, mas não foram poucas às vezes que me senti uma enquanto fotografava.
A fotografia, por muitas vezes me levou aos lugares escondidos nos corações das mamães, seus bebês e das pessoas, em geral.
Uma parte (que não é vista) do meu trabalho tem a ver com me colocar no lugar do outro e isso está totalmente relacionado com a sensibilidade que eu pratico com meus clientes.
A maioria das pessoas não faz ideia da montanha russa que é a maternidade e a melhor forma de entender um pouquinho é ouvir mais do que falar.
Antes de começar a fotografar oficialmente, eu ofereço meu tempo, coração e ouvidos para entender o que está acontecendo naquela família naquele momento e só vou conseguir me conectar com aqueles clientes e ganhar a confiança deles se fizer isso.
Tem uma mulher ali que está fragilizada, talvez insegura ou passando por um sofrido puerpério e só Deus sabe como pode ser solitária essa jornada que ela está vivendo!
Nesse momento é mais importante o que não dizer, cuidar a forma de falar e a linguagem corporal que fazem a separação entre uma experiência ruim e uma satisfatória porque são muitas as gafes que a pessoa com a câmera nas mãos pode cometer, sem se dar conta muitas vezes.
E mesmo quando a mamãe está num dia incrível, temos todas as variáveis de fotografar um bebê, por exemplo. Imagine que o pequeno quer muito mamar e pode fazer isso por até uma hora. Apesar de aproveitar esse momento para fazer vários cliques, vou ter que conversar com a mamãe e esperar o tempo deles. Isso é sensibilidade.
Acredito que tudo isso está relacionado com essa fotografia mais humanizada.
Não é apenas sobre fazer fotos legais e bonitas.
É sobre conexão, empatia, sensibilidade e postura enquanto profissional para criar uma fotografia cheia de significado e sentimento.
Vamos fotografar?
Documentarista das lembranças que os filhos vão ter no futuro, Elysée é jornalista, especialista em fotografia e artes. Membro da Associação Brasileira de Recém-Nascidos, realiza sessões newborn atemporal e fotografia de partos documentais. Pesquisadora do poder das imagens como transformação social, acredita que as fotografias podem estimular vínculos, atuando no âmbito psicossocial, despertando sentimentos, informando e empoderando indivíduos.