Por muitos anos eu vivi em busca do meu “peso ideal” – os famigerados 60 kg. Era o peso em que eu me sentiria bonita, que as roupas teriam o melhor caimento, que milagrosamente resolveriam os meus problemas. Já adianto que foi uma busca exaustiva, tentando me encaixar numa forma, num padrão que não me cabia, mas que me trouxe muito aprendizado e transformação pessoal. Mas essa ainda é uma dúvida recorrente nos meus atendimentos, será que existe um peso que te garanta saúde e bem-estar?
Do ponto de vista científico, existe. Através de estudos populacionais, os pesquisadores encontram valores médios de pesos ditos “ideais” de acordo com a idade e gênero da população. Porém, precisamos deixar claro que esses estudos epidemiológicos são importantes para a formulação de políticas públicas. Mas e na prática? Na prática, a determinação de um “peso ideal” desconsidera a genética, o ambiente familiar, a cultura, a história de vida e a individualidade de cada um. Além disso, o peso isoladamente não é um bom parâmetro de saúde, sofre oscilações ao longo do dia, caso você não tenha ingestão adequada de água, ou caso tenha consumido uma quantidade maior de sal ou ultraprocessados, ou até mesmo se você estiver constipada ou no período menstrual.
Na prática clínica, quando pensamos em emagrecimento, focamos na composição corporal, nos percentuais de gordura corporal e massa muscular, e em todos os benefícios que a mudança no estilo de vida pode te proporcionar. Mas essa preocupação excessiva com o peso pode esconder muitas nuances, que precisamos discutir: É perpetuada a crença disfuncional de que o peso está atrelado ao valor pessoal – a magreza é associada à competência, determinação, superioridade e sucesso. E essa visão pode levar pessoas a buscar métodos inadequados para eliminar o peso, como por exemplo, passar horas em jejum, induzir vômitos, utilizar laxantes, diuréticos ou utilizar o exercício como punição ou compensação após exageros alimentares. Há ainda a crença de que, alcançando o “corpo ideal’, automaticamente se obterá sucesso em outros aspectos da vida (amizades, trabalho, estudos, relacionamentos…) e isso não é verdade.
Há ainda quem acredite que a forma do corpo pode ser totalmente transformada, dependendo apenas do esforço pessoal em seguir dietas e exercícios, ao pensar dessa forma, as pessoas desconsideram aspectos genéticos e questões fisiológicas do próprio organismo que podem interferir no processo de emagrecimento. Além disso, ao constatarem que “fracassaram” quando não se percebem no “corpo ideal”, concluem que são pessoas fracas e incompetentes. Mas, venho te lembrar que a beleza não vem embrulhada na balança ou fita métrica. Ela está na forma que você enxerga o mundo, a si própria e a quem está ao seu redor. Existe beleza na forma em que você fala, age, trata, respeita e se posiciona na vida. Não acredite em comparações cruéis e inatingíveis desse mundo de pixels das redes sociais, cuide da sua saúde mental e comece lembrando das inúmeras belezas que habitam em você.
Médica formada pela UFAL, pós-graduada em nutrologia pelo CBMS e pós-graduada em Obesidade e Síndrome Metabólica pelo IPGS. Uma apaixonada pela mudança do estilo de vida, pratico uma medicina inclusiva, preventiva, que cuida do ser em sua integralidade e que busca saúde em todos os seus âmbitos