“Tive 3 gestações no meu casamento, entre os 28 e os 29 anos, a primeira natural, a segunda com indução de ovulação e a terceira de FIV, com o “monstro” Roger Abdelmassih. Sofri aborto espontâneo em todas elas, antes da 10a semana, sendo o primeiro (devastador) após uma briga com meu marido. O casamento findou por acabar e, a despeito da dor, eu me consolava dizendo a mim mesma que era nova e ainda teria muito tempo para ter filhos.
Embora tenha chegado perto, não me casei novamente e, aos 36 anos, decidi congelar óvulos. O médico disse que era um procedimento novo, sem números de sucesso, e me convenceu a congelar, também, embriões (de sêmen de doador). Fiz a estimulação e metade dos óvulos foram inseminados e a outra metade, congelados. Os embriões não se desenvolveram e, apesar da sugestão médica para “tentar de novo”, eu recebi aquilo como “mensagem divina” e só mantive os óvulos congelados. Aos 39 anos, tive duas gestações naturais, de um namorado e, mais uma vez, as perdi antes da 10a semana, a primeira no meio de uma viagem internacional e a segunda no caos de um processo ético-disciplinar que eu estava conduzindo. Com 40, decidi que ia ter um filho sozinha. Fui chamada de louca por muitos, inclusive meu pai, mas estava decidida. Fui ao Rio, a São Paulo, ao Espírito Santo… gastei o que tinha e o que não tinha… fiz seis ciclos completos de Fertilização In Vitro… e implantei embriões umas 16 vezes (entre 1 e 4, cada). Foram anos de frustrações, com a família me pedindo para parar de tentar, receosa de que eu tivesse um câncer por tomar muitos hormônios. E eis que aos 43 anos eu engravidei do Lucas, nome escolhido em homenagem à minha mãe, que falecera 17 anos antes. Foi uma gestação tranquila, sem complicações. Vim de Brasília para Maceió entre a 34a e a 35a semana, e fui parar na maravilhosa aula de Pilates da Damy e nesse grupo incrível.
Passei 9 meses me preparando para um parto normal. Se quando mais nova tinha muito medo, agora tudo o que eu queria era viver a experiência de parir meu filhinho tão desejado! Fiz cursos, li livros, fiz ioga para gestantes, fisioterapia pélvica e pilates. Estava tranquila, consciente do que me esperava. E eis que na madrugada do dia 29.9, 2 semanas antes do previsto, minhas contrações começaram. Como eu sabia que era um processo longo, nem disse nada a ninguém, até umas 6 da manhã. Às 7, liguei para a obstetra e ficamos de nos encontrar às 8, na Santa Casa. Na porta de casa, a bolsa rompeu. As contrações, no entanto, diminuíram de intensidade e eu não tinha dilatação. Ainda assim, finquei o pé e pedi para aguardar duas horas, após as quais eu continuava sem dilatação. Assim, independentemente de todos os planos prévios, Lucas nasceu de cesárea às 11:08 do dia 29.9, pelas mãos dos competentíssimos Drs. Robertta e Telmo, sem que a fotógrafa chegasse e com minha avó no centro cirúrgico, a tentar mudar o voto do Dr. Telmo para presidente. Foi uma lição do não controle. Como Lucas nasceu “cansado”, foi levado para a UTI e eu não tive como pedir que deixassem para clampear o cordão depois, não pude colocar ele logo no peito, não tive como impedir o colírio de nitrato de prata (que presenteou ele com uma conjuntivite).
Mesmo assim, foi lindo e único. Junto com o Lucas, nasceu uma mãe leoa, capaz de brigar para que não lhe dessem mamadeira nem na UTI, apta a passar muitas noites em claro com um bebê cujas cólicas não começaram na terceira semana, mas no terceiro dia. Lambo a cria o tempo todo, desde então, e, juro, meninas, não me lembro de ter me sentido assim, tão feliz, antes…”
Manuella Nonô
mamãe do Lucas