Preciso, antes de tudo, fazer um relato de gestação. Fase que me ensinou tanto, sobretudo sobre paciência e tempo.
Minha gravidez não foi uma surpresa, pois em dezembro resolvemos deixar a natureza livre para agir. Só não esperávamos que seria tão logo. Como sou organizada e a “louca do planejamento”, no primeiro dia de atraso da menstruação já anunciei informalmente, em casa, que estava grávida. E estava mesmo. Todo aquele misto de felicidade, amor, ansiedade e alegria tomou conta de toda a família.
Tive uma gestação tranquila, exceto pelos fortes e contínuos enjoos. Não só no comecinho, mas nos oito meses eu enjoei.
Esses enjoos me deixavam, literalmente, de cama. Eu não conseguia trabalhar bem, estudar ou escrever. Tive que adiar o lançamento da Revista, tive que adiar a qualificação no mestrado, tive que encerrar o semestre antecipadamente com meus alunos, que cancelar algumas palestras, e tive, sobretudo, que entender que a gente não tem controle sobre nada.
Por mais organizada e disposta que seja uma mulher, a gestação chega para mostrar que somos seres humanos, não máquinas. Tive picos de muita tristeza ao me ver de cama, em casa. Tive momentos de pura gratidão e alegria, e tive momentos de incertezas e inseguranças.
Sobre esses últimos, foram estupidamente amenizados com minha entrada no Pilates. Não pelo exercício em si, apenas, mas pela rede de apoio e compartilhamento que pude desfrutar ao conhecer Damyeska. Uma mulher decidida, segura, guerreira, engraçada e de astral leve. Aquela pessoa que você quer na sua vida para sempre.
Eu me apaixonei pelas aulas (mesmo faltando a um bocado delas). Eu me apeguei às buchudas todas e já sinto muita saudades da rotina de gestante e do Pilates da Damy.
Pouco antes da gestação, eu e meu esposo resolvemos abrir um novo negócio. E, no mesmo espaço, preparar nosso ninho de amor. Um ponto de apoio numa região mais central de Maceió, visto que a logística e rotina de morar na Barra Nova pedia esse suporte. Demos início à nossa jornada de obra! (Não desejo reforma pra ninguém, muito menos durante uma gravidez).
Foram oito meses de muita correria. Ele trabalha bastante, eu também, a obra exige, a gravidez limita e o tempo não espera! Então não pude desfrutar mais da fase por conta dos enjoos e por conta da obra. O que foi uma pena, pois já sinto muita falta da barriga. (Não tive tempo de fazer ensaio de gestação. Estava esperando o dia 15, quando, enfim, eu encerraria a rotina de trabalho. “Não deixe pra depois o que você pode fazer hoje”.).
Conseguimos concluir a principal parte da obra, aos 7 meses. Assim como a malinha da maternidade, o quartinho dele e tudo mais.
Resolvi, então, organizar minha agenda de compromissos até o dia 15 de novembro, já que o parto estava previsto para o dia 30.
Lançamento da revista, três palestras, apresentação de um artigo e compromissos na faculdade: Todos cancelados.
Mais uma vez, fui relembrada que NÓS NÃO PODEMOS CONTROLAR TUDO!
Relato de Parto
Durante todo o tempo eu me preparei (lendo, assistindo documentários, conversando com especialistas) para um parto normal. Ser mãe não era um sonho latente em mim há muito tempo, mas quando aconteceu, passei a sonhar com o parto. Eu queria parir. Cogitamos muito o parto natural, em casa. Eu e meu marido queríamos, ele até mais confiante que eu, mas, não sei exatamente quando, resolvi que meu parto seria normal, mas no hospital.
Comecei a orientação com a Fernanda, doula, além de continuar estudando etapas de um parto ativo. Minha obstetra estava na mesma sintonia, e como uma incentivadora do parto normal, me deixou muito confiante.
Na terça-feira, 30/10, fomos logo cedo para a ultrassom de rotina. Vimos Heitor lindo e tranquilo em meu ventre. Saindo da clínica, fui dar minhas quatro aulas, normalmente. De lá, fui encontrar meu esposo na prefeitura, para assinar uns papéis. E de lá, fomos almoçar. No estacionamento do Palato, ao descer do carro, senti uma sensação de que estava perdendo algum líquido. O banco do carro já estava repleto de sangue e meu marido já foi fazendo a volta para irmos ao hospital.
Entrei em contato com Drª Roberta que, por destino, estava no Centro Médico e me mandou ir direto pra lá. Ao me examinar, identificou as contrações (que estavam desde a noite anterior e, por não ter dor, achei que eram as famosas contrações de treinamento), 1cm de dilatação, e bastante sangue. Fizemos exames para tentar descobrir a origem do sangramento, mas nada feito. Estava, aparentemente, tudo normal.
Fiquei em observação pelas próximas cinco horas. As contrações aumentavam. Dor alguma. Eu estava radiante por dentro, porque as contrações significavam, pra mim, que Heitor estava escolhendo sua hora e viria em um parto normal. Como não tinha dor e eu estava tranquila, fiquei apenas mentalizando coisas boas, avisando aos meus alunos que eu iria entrar de licença e combinando com eles o fim das minhas disciplinas. Passando os trabalhos, acalmando os alunos que estavam sendo orientados por mim em seus TCCs, e me maquiando no tempo livre. Na minha cabeça, já já viriam as dores, mais contrações, e eu iria me descabelar, chorar, gritar. Então, aproveitei a calmaria para ficar plena hahahaha.
Fui internada em um quarto específico para parto normal. Então imaginem minha expectativa. Eu via aquela banheira, a banqueta, a bola.. e pensava: “já já estou usando tudo isso. Logo logo esse parto normal engrena”.
Mas a obstetra veio, fez novo toque e nenhuma evolução. Quase 6h depois eu continuava com apenas 1cm de dilatação.
Foi quando veio a notícia:
“Precisamos ir para a cirurgia”.
Inicialmente, o impacto da palavra cesárea me deixou meio abalada. Mas ao cogitar a possibilidade do bebê estar ou entrar em sofrimento, lembrei de algo que eu repeti muitas vezes para mim mesma e outras gestantes:
“o melhor parto é aquele que traz seu filho ao mundo com saúde e segurança”.
Então respirei fundo, abracei meu marido e fomos nos preparar para a cirurgia.
Foi só o tempo de chamar meu amigo e fotógrafo Gustavo, que não estava preparado, mas chegou correndo e ansioso para registrar lindamente o momento que marcou minha jornada para sempre.
Heitor nasceu perfeito, mas teve que ficar na UTI no primeiro dia, para fortalecimento e observação de sua respiração. Eu chorei durante todo o parto. Preocupação com ele, amor transbordando e tanta coisa ao mesmo tempo passava pela cabeça e coração.
Sobre meu sangramento, só quando me abriu, a médica visualizou a causa. Um lado da minha placenta já tinha descolado. Se não fosse essa hemorragia, talvez toda ela desligasse e, se acontecesse, poderia ser tarde demais para o bebê. Então foi tudo no tempo certo, com a benção divina.
Tudo correu bem e só posso agradecer à Deus, ao cuidado e instinto da doutora Roberta, ao amor e parceria do meu esposo e ao apoio de minha mãe, que tem sido, mais do que nunca, meu porto seguro.
Ter o Heitor em meus braços, em meu seio, em minha vida, está me transformando mais e mais. Mas o relato de puerpério vem em outro texto.
A publicitária especialista em Marketing, idealizou a revista Due, em 2010, junto à uma amiga e sócia. Juntas, comandaram a empresa por 3 anos. Quando sua sócia decidiu enveredar por novos ramos, Valná toma a frente da empresa e continua com a publicação que tem como sua fonte de realização pessoal. É professora universitária, amante de viagens, leitora ávida e curiosa. Adora compartilhar conhecimento com seus leitores e acredita no lema que deu ao seu negócio, apostando, de olhos fechados, no conteúdo como fonte de transformação social.