No ano de 1994, foi criada no município de Delmiro Gouveia, sertão alagoano, a reserva ecológica do Castanho, um espaço de belezas naturais banhado pelas águas do Rio São Francisco. Com o passar dos anos, a reserva foi sendo transformada em um dos principais equipamentos turísticos da região, mas o respeito pela natureza continua o mesmo desde quando, nas palavras do atual proprietário, Eliseu Gomes, “nada existia, apenas pedras, caatinga e calor”.
O empreendedor explica que o espaço pertence à família dele há um século e que a criação da reserva ecológica representa uma homenagem aos ancestrais. “O Castanho, como fazenda, já tem um século com a família, mas foi em 1994, com o enchimento do Lago Xingó, última hidrelétrica do complexo Chesf, que nós criamos a reserva ecológica do Castanho. Foi uma forma que encontramos para homenagear meus ancestrais, em especial meu avô paterno e meu pai, que eram grandes defensores da natureza”, detalha.
Transformando a reserva em negócio
Depois da operação de enchimento do reservatório de Xingó, os proprietários da reserva ecológica começaram a perceber que existia ali uma área com potencial para o turismo ecológico. Desde então, a vontade de transformar a reserva em negócio começou a se tornar um objetivo para eles. “Naquele momento, pensamos: qual atividade econômica poderia ser implantada para que possibilitasse renda sem grandes impactos ambientais? O turismo ecológico. Por volta de 1995, começamos a desenhar o Castanho, que aqui está, com o catamarã menestrel das Alagoas, o restaurante e a pousada”, recorda Eliseu Gomes.
“O primeiro passo desta aventura foi a construção do catamarã, em 2010. Depois de pronto, surge a necessidade de um porto e, consequentemente, de um restaurante, inaugurado em 2012. Foi a exigência de nossos clientes que levou à criação da pousada, em 2018. Os nossos visitantes — no final do dia — nos chamavam e diziam: ‘este lugar tem que ter uma pousada’. De fato, o Castanho não é para o ‘bate e volta’. É para curtir a lua, as estrelas e o nascer do sol ao som dos pássaros. E concordamos com a clientela, a pousada tem sido um sucesso”, complementa o empresário.
Os desafios de fazer turismo no sertão alagoano
Antes de se tornar um dos destinos turísticos mais procurados em todo o país, o sertão de Alagoas ainda não possuía a estrutura e a projeção que tem hoje, sendo para muitos uma região desconhecida. Naquele momento de descoberta do potencial turístico que existe nos municípios de Piranhas, Olho d´Água do Casado e Delmiro Gouveia, começou a ser desenhada a história da reserva ecológica Castanho, que nas últimas décadas se tornou um complexo de turismo ecológico. Atualmente, além de disponibilizar ao público área de lazer, restaurante, pousada, trilhas ecológicas e passeios nas águas do lago de Xingó e dos cânions, a reserva também conta com um pequeno museu destinado à exibição de objetos que contam a história do sertão.
O empreendedor Eliseu Gomes relata que no início da empresa, quando o negócio ainda era um projeto, investir em turismo na região era uma ideia ousada. “No sertão, tudo era muito difícil. Pensar em turismo era uma abstração para poucos, uma loucura. Sem estradas, sem pousadas e restaurantes. Mas aconteceu uma coisa fantástica a despeito de todos que só enxergavam muita água, muita seca e distância de tudo: nós projetamos muito além. Estamos no que será o maior destino de água doce do Nordeste. Tanta água e tanta seca num antagonismo extremo que dá uma força tremenda ao lugar”, destaca.
Apoio do Sebrae
Durante a trajetória da reserva ecológica do Castanho e, mais especificamente do restaurante e da pousada, o Sebrae em Alagoas foi um importante parceiro do empreendimento. Para o empresário Eliseu Gomes, a contribuição da instituição foi fundamental para que a empresa conseguisse se consolidar no segmento. “O Castanho tornou-se um prolongamento do Sebrae no esforço de modificar, diminuir espaços, criar uma nova mentalidade calcada na história dos cânions, na gastronomia e, sobretudo, na capacitação do sertanejo”, ressalta.
O empreendedor aproveitou a oportunidade para destacar a relevância das atividades turísticas para o desenvolvimento econômico da região. “O desenvolvimento do ecoturismo oportunizou a criação de novas profissões na região, que são imprescindíveis para que o turismo aconteça, ocorrendo, consequentemente, uma integração socioeconômica que também interfere na educação, no sentido mais amplo da palavra. Ou seja, permite ao sertanejo envolvido na atividade uma nova concepção no trato com a natureza”, defende.
O gerente adjunto da Agência de Atendimento Integrada do Sebrae em Delmiro Gouveia, Vítor Pereira, afirma que a empresa é uma das mais atuantes nas ações promovidas pela instituição na região. “Desde 2014, quando a Unidade do Sebrae em Delmiro Gouveia foi iniciada, nós atendemos o empreendimento. Já fizemos várias consultorias com eles e já participaram, também, de várias soluções de capacitação. Além disso, dois membros da empresa fizeram o Empretec”, informa.
Segundo o gerente adjunto, a empresa já teve acesso as consultorias de 5S, Atendimento ao Cliente, Presença Digital, Website, Finanças, Planejamento, Projeto arquitetônico, Design de Ambiente Interior, Boas Práticas de Manipulação de Alimentos e Biossegurança. O negócio também teve a oportunidade de participar de uma missão técnica realizada em Bonito, no Mato Grosso do Sul (MS).
Durante a pandemia do novo coronavírus, a empresa também contou com o apoio da unidade local do Sebrae para enfrentar os desafios impostos pela crise. “Eles receberam diversas consultorias remotas que o Sebrae realizou nesse período de pandemia por meio do programa Ad@pte, e criaram estratégias de enfrentamento para poder passar por esse momento. Uma delas foi a criação dos vouchers, que são as vendas de hospedagem com desconto de 20% num período determinado para que as pessoas comprem esses vouchers e utilizem no período pós-pandemia”, relata Vítor Pereira.
Depois de muitos anos de parceria, o proprietário da reserva ecológica do Castanho faz questão de destacar a importância do Sebrae para os empreendimentos da região. “Nós, aqui no sertão, comparamos o Sebrae ao batedor de esteira das festas de vaquejadas. É o elemento fundamental para colocar o boi na faixa e para que todos possam gritar: valeu boi!”, afirma o empresário.
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