Apesar do trabalho ser uma parte importantíssima na vida de qualquer ser humano, uma série de fatores na rotina profissional podem desencadear a dependência química. Competitividade, estresse, más condições de trabalho, pressão por parte dos superiores, entre outros aspectos do dia a dia de um trabalhador, podem levá-lo a desenvolver um quadro depressivo e consequentemente ao uso de substâncias psicoativas para amenizar seu sofrimento.
Mesmo com muitos casos envolvendo drogas ilícitas, os mais comuns de atingirem esse público é justamente o consumo do álcool e tabagismo. Segundo o médico especialista em dependência química Uranio Paiva da clínica Árvore da Vida, as dificuldades do trabalho às vezes levam a desestabilização do humor do ser humano, que começa a buscar alternativas para amenizar as dificuldades de relacionamento com o trabalho.
“Essa é uma grande farsa, porque as substâncias psicoativas atrapalham a cognitividade cerebral, levando o ser humano a dificuldades de pensamento. O prazer que a droga promove leva a clausura, de só viver pensando nesse prazer e esquecendo os enfrentamentos da vida”, salienta.
O médico ainda ressalta que o uso de medicamentos também são frequentes nesses casos. “Existe uma postura de fuga, onde as pessoas buscam um alivio de certos enfrentamentos através dessas substâncias. Mas muitos esquecem que elas provocam dependência, pois o organismo começa a trabalhar contando com a presença desses elementos. É preciso ter cuidado, principalmente com as drogas lícitas”, explica.
O trabalho é algo que possui uma operacionalidade que pode desencadear dificuldades de relacionamento. Por conta dessa demanda, muitas pessoas passam mais tempo no ambiente de trabalho do que na própria casa, o que faz com que os conflitos ocorridos nessas relações sejam mais intensos, levando a buscar uma substância para minimizar esse problema. Tanto o consumo do álcool como o tabagismo afetam a produtividade e a capacidade de administração das tarefas no trabalho, sem contar com o fato de que podem se tornar um grave problema de saúde pública. Além disso, tem pessoas que começam a fazer uso de substâncias e possuem uma predisposição a se tornar dependente.
Apesar de não existir um estudo específico para atestar, é notável o crescimento do uso do álcool como alívio para pressões sofridas no trabalho, principalmente por ter uma ampla oferta. “O que podemos dizer é que 12% da população possui uma alteração genética, principalmente com o álcool, que pode levar a uma dependência grave. Essa predisposição é uma falha enzimática no processo de metabolismo do álcool no organismo, sendo expressamente proibido para quem possui essa alteração o consumo da substância”
Inclusive muitas pessoas sequer sabem que possui essa falha, já que não existe exame que ateste a alteração. Ou seja, as pessoas só vão descobrir depois que começar a fazer o uso do álcool e não conseguir parar mais.
Tanto o consumo do álcool como o tabagismo afetam a produtividade e a capacidade de administração das tarefas no trabalho. Sem contar com o fato de que podem se tornar um grave problema de saúde pública, já que podem comprometer a qualidade de vida de maneira que o trabalhador terá suas capacidades físicas e mentais bastante diminuídas, podendo até mesmo perdê-las por completo.
Quando se faz uso abusivo do álcool, o organismo começa a se preparar para convivência com essa substância. Há alterações orgânicas para que o próprio corpo possa se proteger. Com o continuado uso, essas alterações se tornam patológicas agredindo órgãos como fígado, rins e cérebro. Muitos pacientes com 20 ou 30 anos de uso contínuo do álcool possuem dificuldade de andar, falar, edema nos membros inferiores, face alunática, braços finos porque a musculatura começa a definhar, além de aparentar ser mais velho do que a idade que tem.
A agressão orgânica e psicológica é muito palpável em ambientes que fazem uso abusivo de substâncias químicas. É possível notar que o paciente se torna esquecido, possui dificuldade para finalizar uma frase, se torna mais lento e com dificuldades cognitivas bastante evidentes. “No entanto, com o tratamento certo, o que estava comprometido começa a se restaurar em pontos como a fala e a forma física, para que se chegue ao mais perto da normalidade possível. É bom que as pessoas saibam que existe tratamento e esperança”, finaliza o médico Uranio Paiva.