Estava aqui cá com meus botões, pensando no que eu poderia escrever para retomar com a minha energia nessa revista que é quase como um espaço sagrado, cheio de mulheres incríveis, e leitoras adoráveis. Estou na minha lua, e para quem não sabe, é um termo que utilizo para dizer que estou menstruada. Um termo carinhoso, pois é assim que eu me relaciono com o meu ciclo. E então, a anciã que me habita nessa fase se expressa nesse corpo que sangra e não morre, e assim eu vivo minha sexualidade, integrando todas as faces que me habita nos ciclos da minha vida.
Por que será que é tão desconfortável falar sobre sexo, menstruação, orgasmos, prazer, desejo, paixão? Será que é porque nele encontramos as respostas para os desafios nesta Terra? E como é mais fácil continuar com comportamentos que já conhecemos ( limitados na sua grande maioria), permanecemos alimentando os conceitos equivocados que foram criados para nos distanciar do nosso maior poder.
O que é essa sexualidade? E o que ela representa para nós? Como ela se manifesta na nossa vida e porque é tão importante olharmos para ela?
É essencial refletir que vivemos numa sociedade que deslegitima nossa voz, nossos corpos, há muitas gerações. E como consequência dessa chaga, vemos uma sociedade regida por valores extremamente distorcidos. Onde o centro do verdadeiro poder, gerador de vida, é negado e violado. O corpo feminino.
Olhar para a sexualidade é olhar e ouvir o nosso corpo. Um corpo doador de vida. Um corpo que se comunica, carregado de tesouros, cheio de respostas que não são percebidas por não serem sentidas, o corpo físico se comunica através das sensações físicas, e porque é que não conseguimos ouvir o que ele tem a nos dizer? Simples! Porque não foi ensinado.
Nos ensinaram a calar, para ser aceita, para pertencer, pois todo ser humano necessita amar e ser amado, ou o sentido de existir se perde e nessa história de negligenciar o corpo, negamos o nosso feminino. Nos meus atendimentos posso observar a quantidade de mulheres que estão presas em seus corpos, um corpo doente, que chora enrijecido nos ciclos da vida, mulheres mal humoradas, sem satisfação em existir, mulheres dependentes emocionalmente e financeiramente de homens, como reféns, ou prisioneiras de si mesmas?
O sentido da existência da mulher está sendo resgatado e sendo direcionado para seu lugar, um espaço sagrado. Não há mais como fugir, chegamos em uma era onde o senso de urgência palpita no útero de todas. Um chamado para irmos além da superfície. Como diz Clarissa Pínkola, rio abajo rio, ir mais fundo, olhar para essas águas criativas, para o poder que existe dentro da nossa fertilidade. É preciso acordar o corpo e conectá-lo com sua fonte para que ele possa sentir que está vivo. Olhar para esse corpo que se movimenta e perceber a qualidade desse movimento, se ele está vinculado ao prazer, se ele carrega sonhos pois enquanto houver sonhos, haverá vida, nossos sonhos nascem da nossa criatividade, do anseio da alma selvagem em crescer e vicejar.
As mulheres contemporâneas vivenciam o grande desafio de integrar suas faces em um mundo que nos exige uma linearidade que não podemos oferecer, é insustentável, anti natural essa postura. Uma rotina de exigências internas e externas, com uma grande pitada de auto cobrança para sermos como o padrão social diz que é o certo e o melhor, um cenário que conduz a mulher para um limbo, onde ela muitas vezes se perde e nem sempre consegue se resgatar sozinha, é preciso um salto de fé daquela que se perdeu nos ritmos desse ciclo da vida. Mas é possível sair desse lugar e encontrar um caminho leve e fluído com esse ser mulher. E o ponto de partida que considero fundamental para nosso equilíbrio, é a integração unido ao respeito dessas múltiplas faces que nos habita.
Seu corpo tem registrado todas as vezes que sofreu um abuso, e o abuso não necessariamente é uma violência física, o abuso mais perigoso talvez seja aquele que a gente não tem consciência de que é nocivo, por que foi naturalizado. É o que acontece quando transamos sem vontade só para agradar o outro, quando não respeitamos os momentos que o corpo pede descanso e é negado para ir trabalhar mais, quando nos alimentamos sem consciência, enchendo o corpo de alimentos que nos faz mal, e por ai vai…
Onde estamos negligenciando esse corpo? Esse veículo da alma está ligado a todo nosso sistema, e que nos dar suporte durante toda nossa existência terrena. Clarissa Pínkola Estés, autora de mulheres que correm com os lobos, livro maravilhoso que considero como um divisor de águas na vida de uma mulher, literalmente. Uma abordagem que resgata esse senso de responsabilidade e zelo pela força que emerge das entranhas de um corpo feminino, nosso instinto primitivo, nossa fonte, nossa origem. Voltando para o ponto, Clarissa em O corpo Jubiloso: A carne Selvagem, cita: “O corpo é um planeta. Ele é uma terra por sí só. Como qualquer paisagem, ele é vulnerável ao excesso de construções, a ser retalhado em lotes, a ser isolado, esgotado e alijado do seu poder. A mulher mais selvagem não será facilmente influenciada por tentativas de urbanização. Para ela, as questões não são de forma, mas de sensação. O seio em todos os seus formatos tem a função de sentir e amamentar. Ele amamenta? Ele é sensível? Então é um seio bom. Já os quadris são largos por um motivo. Dentro deles há um berço de marfi, acetinado para a nova vida. Os quadris da mulher são estabilizadores para o corpo acima e abaixo deles. Eles são portais, são almofada opulenta, suportes para as mãos no amor, lugar para as crianças se esconderem. As pernas foram feitas para nos levar, as vezes para nos empurrar. Elas são roldanas que nos ajudam a subir; são anillo, o anel que abraça o amado. Elas não podem ser criticadas por serem muito isso ou muito aquilo. Elas simplesmente são. No corpo, não existe nada que “ devesse ser” de algum jeito. A questão não está no formato ou na idade, nem mesmo no fato de ter tudo aos pares, pois algumas pessoas não têm. A questão selvagem está em saber se esse corpo sente, com a alma, com o mundo selvagem. Ele tem alegria, felicidade? Ele consegue ao seu modo se movimentar, dançar, gingar, balançar, investir? É só isso o que importa.”
Precisamos nos lembrar umas às outras de fechar os olhos e se perceber, para que as novas estações sejam mais amorosas. A revolução é pelo feminino. É no resgate da nossa natureza.
Eu sigo daqui, criando a sinergia das faces que me habita, numa alquimia de amor por mim mesma, contemplando essa existência como uma oportunidade de lapidar essa joia que brilha em cada mulher, a luz do feminino. Me libertando dos padrões impostos e normalizados para viver minha própria verdade, respeitando os ritmos internos desse corpo/casa que se movimenta, na natureza das estações. Aha deusas da literatura, eu agradeço pela oportunidade de poder expressar esse horizonte que enxergo, um mundo onde as mulheres se sintam livres, independentemente das escolhas que te movem, livres com a consciência da luz que habita em seu ser.
Gratidão!
Giselle Claudino, ou melhor Giza ( como gosta de ser chamada) é Terapeuta Thetahealing®, Reikiana, aplica massagens relaxantes energéticas, coloca cartas e facilita Roda terapêutica de Mulheres ( Roda Raízes do Ser). Innergiza é a união de serviços e produtos que auxiliam no autoconhecimento e cura do corpo físico, mental, emocional e espiritual. Formada em Administração pela Universidade Federal de Alagoas, ela utiliza os conhecimentos de gestão e as técnicas terapêuticas para auxiliar outras mulheres a encontrarem sua arte e manifesta-la em essência na realidade.