Não me leve a mal, mas quero começar esse texto com uma frase um tanto quanto clichê. Confesso que não sou adepta a eles, ainda que acredite que todos têm motivos para serem. Mas hoje essa expressão me pegou desprevenida:
Que não nos falte coragem para ir além.
Não sei onde a vi, mas escrevi-a [em um papel que já perdi], com o objetivo de refletir sobre o estalo horas depois. Ali, naquele momento, eu tinha um compromisso comigo: jogar xadrez.
Organizei as peças e comecei a partida. Eu olhava para o tabuleiro, ele me olhava de volta, e a frase mantinha-se ali, pairando entre nós. Fui pra lá, fui pra cá, juntei as peças em fila e agora as encaro.
Elas não dizem nada, mas esse vazio não é uma surpresa. Afinal, sempre gostei do jogo por que acho que ele materializa a possibilidade de pensar apenas na próxima ação: estar de frente para o tabuleiro ameniza minha racionalidade. É ali, enquanto penso se vou mover peça x ou y que tudo some.
Mas não dessa vez.
Entendi depois que era por que a frase não fazia jus ao momento. No xadrez, a coragem para ir além deve ser dosada e articulada, pois a jogada adversária tem que ser levada em conta: é ela quem carrega em si a possibilidade da destruição.
Faço dessa forma por gostar de ganhar. Mas, admito que fora do quadriculado perco muitas vezes. E em outras nem chego ao fim.
Pois no plano real não temos apenas a nós como oponentes. Há também os limites do tabuleiro: como você lida com eles e quanto os tem expandido?
Dirijo essa pergunta a vocês por que a dirijo também a mim.
Seria hipocrisia dizer que a ideia da derrota não é assustadora. Mas, a partida em que estamos no hoje é a que começamos a jogar no ontem. E se ainda estamos aqui, é bom que avaliemos: o quanto de entrega tem havido no depois?
Escrevo isso por acreditar que no jogo da vida real só devem existir duas regras imutáveis: a de não ser covarde consigo e a de honrar as fichas que já foram apostadas. Elas são mais importantes que o resultado das partidas.
Ainda que tenha havido desistência. Suas jogadas são o que te trouxeram aqui e são também o que te levam ao novo.
Agora, diria para a Lisa que era eu há três horas que não conseguimos terminar aquele jogo por que é dificílimo ter coragem. Ela requer outra: a de, às vezes, se dar um xeque-mate.
Mas também diria que o além pode estar a duas casas para frente ou para trás, e que de toda forma ele vai ser um precipício.
E a questão não é onde você vai cair, ou a peça que vai perder.
É quem você vai ser.
Por isso, eu espero que você não queira ganhar todas. Às vezes, a gente não consegue nem ir. E tudo bem.
O que espero é que você valorize cada casa que chama de sua.
E que se jogue.
Mulher, alagoana, estudante de Jornalismo e apaixonada pelo audiovisual, descobriu no universo cinematográfico uma oportunidade para ouvir e entender histórias de mulheres que foram separadas pelo tempo. Nessa de observar as outras, acabou querendo conhecer mais sobre si mesma. Ama a natureza, livros, tarot e tomar um bom café. Escreve por que acredita que apenas o compartilhamento pode levar à unidade.