Começo esse texto esclarecendo que sou, desde que me entendo por gente, uma telespectadora de programas culinários! É um caso de amor antigo que começou (e que também termina) na beira do fogão. Dito isso, trago à tona que conheço muitos e acompanho poucos: quanto mais sensacionalista o formato, menos me interessa.
O fato é que o MasterChef Brasil compõe essa lista cheia de amô desde o lançamento da primeira temporada. Gosto dos chefs e da didaticidade, da atenção dada aos alimentos, dos diálogos… e gosto, sobretudo, de ver as pessoas se apaixonando pela cozinha e por todas as suas possibilidades.
Esse último ponto abrange os participantes e os telespectadores, e também nos leva ao próximo: a mudança de formato adotada pela emissora em decorrência do coronavírus. Spoilers à parte, escrevo esse texto para externalizar as perguntas que me fiz (como uma boa estudante de comunicação) enquanto assistia a estreia, já disponível no Youtube.
Com a dinâmica alterada, o programa que tinha como objetivo encontrar um grande chef entre cozinheiros amadores agora não busca um vencedor: um competidor sairá coroado a cada episódio, e o prêmio [junto com o tamanho do troféu] diminuiu drasticamente.
Nesse novo embalo, não foram só os participantes que perderam: o telespectador também! Perdemos a possibilidade de acompanhar o desenvolvimento individual dos cozinheiros; perdemos a chance de torcer e perdemos parte do processo que compõe o campo da identificação. Afinal, ver os participantes superarem seus próprios traumas ao longo da temporada cria uma conexão invisível entre nós, meros mortais.
Para os cozinheiros também ficou faltando, uma vez que a participação também envolvia a vontade de ganhar notoriedade individual, conseguir estágios, conhecer diferentes tipos de culinária e criar canais de comunicação que pudessem ser levados para fora da TV. Ficando no ar apenas um episódio é quase impossível que isso ocorra: falta tempo.
Pontos devidamente elencados, deixo aqui a mesma pergunta que trouxe no título: vale tudo pela audiência? pelo lucro?
Parece que a vontade da emissora de colocar no ar seu programa de maior alcance destruiu todos os estigmas (construídos por ela mesma) que sustentavam o sonho de ser um MasterChef. E eu até sei que as justificativas que precederam a mudança foram razoáveis. A questão é se convence.
E se sim, a quem.
A sensação que fica é a de que público e protagonistas ainda são visto como não-participativos: nada mais importa, a não ser ter alguém sentado na frente da TV gerando receita para o canal.
Seria essa a receita perfeita de como queimar um bolo?
Mulher, alagoana, estudante de Jornalismo e apaixonada pelo audiovisual, descobriu no universo cinematográfico uma oportunidade para ouvir e entender histórias de mulheres que foram separadas pelo tempo. Nessa de observar as outras, acabou querendo conhecer mais sobre si mesma. Ama a natureza, livros, tarot e tomar um bom café. Escreve por que acredita que apenas o compartilhamento pode levar à unidade.