Essa foi uma frase que ‘bombou’ no Instagram nos últimos dias. Setembro amarelo à parte, esse não é um texto sobre transtornos psicológicos ou sobre esse mês fatídico. E, claro, você pode até não ter visto a frase [e se viu, acho que já imagina o que vem por aí] mas se clicou aqui é por que ela te impactou de alguma forma.
E me impacta também.
A senti [por que já a tinha lido antes] pela primeira vez durante uma sessão de cinema que exibiu Bacurau. E se você se perguntou o que danado é Bacurau, te esclareço: o último filme de Kleber Mendonça, diretor brasileiro. Prêmios que a obra recebeu à parte, Bacurau é um longa de luta, sangue e Nordeste. E é, sobretudo, um filme que escolhe viver. Apesar dos pesares.
Um adendo: esse texto também não é uma crítica ou uma análise. Ele reflete, simplesmente, uma vontade de não morrer.
E não uma vontade minha enquanto Lisa. Mas de mim enquanto mundo. Enquanto sujeito histórico: que nasceu no Nordeste, em uma periferia extremamente afastada do Centro, minúscula, prematura, de cabelo encaracolado, taxada de ‘parda’ pelo cartório, na linha de pobreza e mulher.
E antes de responder à questão inicial, também te proponho outras, que considero fundamentais para a reflexão que se segue: quem é você no mundo? Como se enxerga e como escolhe suas batalhas? Em que lugar da história você está inserido? E mais, qual parte dela é o que faz jus a toda a sua trajetória?
Se você não consegue responder a essas questões, as considera difíceis demais ou, ainda, não quer pensar sobre isso, te digo: talvez uma parte de você já tenha morrido.
Você pode andar, correr, trabalhar e namorar. Você pode acordar todos os dias. Mas se você não sabe o porquê é e o que te faz ser, parte de você se perdeu.
Por isso o cinema nacional é importante e impactante: ele nos conta uma história que é só nossa, do nosso povo. Bacurau poderia ser o meu lugar, ou o seu, e no fim isso nem importa: por que Bacurau já é toda região brasileira de difícil [ou impossível] acesso, governada por políticos apáticos, onde falta água, comida e medicamento.
Bacurau é também o reflexo de um povo que se une na dificuldade. De um povo que sobrevive. E de uma forte utopia revolucionária.
E o mais perigoso: de uma possível (e próxima) distopia brasileira.
Te alerto: prestigiar nossa própria arte é um ato político. E você não precisa gostar de política, mas é fundamental que tenha a consciência de que ela já está entranhada em tudo que faz. Não há saída.
Por trás das falácias que dividem a produção audiovisual nacional em comédias e outras comédias, há um Brasil de filmes fortes e duros, que contemplam todos os gêneros e todas as realidades. Filmes escondidos. Filmes encobertos. Filmes difíceis.
E o principal: filmes que não chegam aos grandes centros comerciais.
O motivo?
Eles podem despertar uma vontade de viver extremamente perigosa. Simplesmente por que ela pode estar ligada a uma luta real pela sobrevivência.
Mulher, alagoana, estudante de Jornalismo e apaixonada pelo audiovisual, descobriu no universo cinematográfico uma oportunidade para ouvir e entender histórias de mulheres que foram separadas pelo tempo. Nessa de observar as outras, acabou querendo conhecer mais sobre si mesma. Ama a natureza, livros, tarot e tomar um bom café. Escreve por que acredita que apenas o compartilhamento pode levar à unidade.