Artesanato (também) é negócio

A discussão sobre as fronteiras entre arte popular e artesanato sempre estão na pauta de pesquisadores e especialistas, mas nunca foi dúvida entre os artistas: o trabalho criativo realizado por homens e mulheres em todas as regiões do país, com grande destaque para Alagoas, não se prende a categorias ou conceitos. O importante é a sua valorização e, sobretudo, o olhar atento para a cadeia produtiva que se desenha em torno dessas manifestações artísticas.

“Durante muito tempo, o artesão era visto como fonte de renda para quem atuava fazendo a ponte entre essas comunidades e os lojistas nos grandes centros urbanos. As comunidades não se organizavam em associações, cooperativas ou grupos criativos e, mesmo aqueles que trabalhavam sozinhos, em seus ateliês, pouco tinha acesso a informações sobre precificação, divulgação e possibilidades de comercialização das suas peças”, explica Marina Gatto, gestora do Programa de Artesanato do Sebrae Alagoas.

Foi quando surgiu, no final da década de 1980, a ideia de realizar um evento que reunisse o artesão e o público, de forma direta, sem intermediações. Foi assim que surgiu a Artnor, em 1989. “Essa feira tem uma importância histórica enorme no desenvolvimento e na valorização da arte popular em Alagoas, foi um divisor de águas, inspirando outros formatos no nordeste e no país, a exemplo da Fenearte, em Pernambuco”, afirma Keylle Lima, diretor técnico do Sebrae Alagoas.

Foi esse pioneirismo que motivou a volta da Artnor em 2024, que acontece neste mês de novembro, no estacionamento do Maceió Shopping. “Além da exposição e da comercialização de produtos, a feira volta a ser uma oportunidade para o visitante conhecer o trabalho de artistas populares que fazem sucesso no estado, no Brasil e também no exterior”, completa Keylle Lima.

Histórico

A analista Marina Gatto faz questão de ressaltar que a iniciativa visa incentivar as cadeias produtivas do artesanato, em torno das nossas principais tipologias, regiões de origem e também capacidade de comercialização. “Estamos falando de uma atividade que gera emprego e renda em praticamente todos os municípios do nosso estado, pessoas e grupos que produzem bordados, rendas, peças em madeira, barro, couro, fibras, palhas, ferro, tudo se transforma em matéria-prima para a imaginação”, resume Marina Gatto.

Marco para o segmento, a Artnor exibiu ao longo dos anos o rico acervo de saberes, fazeres, costumes, crenças e tradições de Alagoas. O objetivo principal para a retomada em 2024 é continuar dando destaque aos artesãos, exibir suas criações, revelar suas histórias e, acima de tudo, reafirmar a força empreendedora que movimenta um mercado que cresce a cada ano.

“Ao longo dos últimos anos, nossos artistas populares tiveram a oportunidade de expor dentro e fora de Alagoas e do Brasil. O Sebrae faz questão de levar o artesão como protagonista, para eventos de artesanato, moda e outros mais abrangentes que abordam a cultura popular como um todo. Eles são verdadeiros embaixadores da arte alagoana, que está entre os territórios mais férteis da arte popular no mundo”, informa Marina Gatto.

Edição 2024

Com o conceito “Vem conhecer os encantos de Alagoas”, a Artnor apresenta ao público o melhor da produção artesanal de Alagoas em variadas dimensões. A proposta é oferecer mais que um produto, mas uma experiência para sentir, olhar e cheirar, originada pelo universo de quem transforma tradições, arte e cultura em vivências.

Além de oferecer o melhor do artesanato, em suas diferentes matérias-primas: fibras, fios, cerâmica, madeira, tecelagem, metais, a feira traz ainda, oficinas de criatividade, contação de histórias, apresentações de grupos folclóricos, parafolclóricos e artísticos. “Tudo isso será apresentado como um conjunto harmônico de atividades que se completam dentro de uma visão de negócios, de arte e de cultura popular”, diz Marina Gatto.

Para garantir a manutenção das características da Artnor, uma curadoria especializada do Sebrae Alagoas ficou responsável pela seleção dos artesãos e artigos a serem expostos e comercializados durante o evento, buscando garantir a qualidade dos produtos para consumidores e lojistas. “Queremos mostrar que a cadeira produtiva do artesanato gera negócios importantes no nosso estado mas, sobretudo, impacta positivamente a qualidade de vida das pessoas que atuam no segmento, transformando para melhor a vida de famílias e de comunidades nos quatro cantos de Alagoas”, resume a analista do Sebrae.

Essa é a razão de ser da Artnor: revelar o atual estágio da arte popular em Alagoas, frutos de um percurso histórico e do trabalho coletivo de muitas mãos. Mostrar os artesãos, grupos, associações e cooperativas distribuídos por todas as regiões do estado, com matérias-primas e contextos característicos, que contam narrativas de suas trajetórias pessoais, heranças locais e valorizam o pertencimento e a territorialidade.

“Tudo que fazemos ao longo desses anos tem como meta destacar o trabalho realizado por esses artistas fantásticos. A razão de ser desse retorno da Artnor é exibir essas criações que já encantam moradores e turistas que visitam Alagoas, que batem recordes de vendas nas feiras realizadas em diversos estados do Brasil e do exterior. É mostrar que artesanato também é negócio e pode ser um dos grandes motores do desenvolvimento local”, conclui Marina Gatto.

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