Muitas pessoas que possuem uma vida ativa e seguem a risca a recomendação de atividades físicas de rotina e alimentação controlada, costumam encontrar dificuldades com a balança em mostrar números menores. Essa dificuldade de emagrecer pode estar ligada a uma atividade desregulada de diversos sistemas do corpo, o que se faz necessário uma investigação mais minuciosa por meio de profissionais capacitados.
Alguns sintomas e condições médicas que podem interferir nesse processo podem se apresentar em forma de cansaço, inchaço, retenção de líquidos e até mesmo no enfraquecimento da saúde mental, que podem comprometer o sucesso no emagrecimento.
A médica endocrinologista, Celina Albuquerque, conta que essa é uma questão bem frequente entre os pacientes que chegam nos consultórios médicos procurando motivos para não conseguir se desfazer dos quilinhos a mais. “São nesses casos que vamos precisar dos exames de sangue, avaliação dos hormônios do paciente e o estado nutricional dele para entender o que realmente interfere no diagnóstico e principalmente no tratamento”, salienta.
Uma sensação de cansaço persistente pode estar ligada a diversos problemas de saúde, como anemia e síndrome da fadiga crônica. Já o inchaço e retenção de líquidos podem estar ligados à insuficiência cardíaca, doença renal ou síndrome pré-menstrual, ocasionando um aumento de peso devido ao acúmulo de líquidos no corpo.
“Outro sintoma que deve ser observado é o aparecimento de manchas escuras no pescoço ou dobras cutâneas que podem indicar um risco maior de resistência insulínica, que é um fator que dificulta no tratamento. Surgimento de estrias na região abdominal pode estar relacionado com doenças que envolvem as adrenais, o cortisol, e que precisa de um tratamento específico, além da retenção de líquidos que acaba causando inchaços principalmente em membros inferiores”, acentua.
Além disso, uma das causas mais comuns para esse distúrbio, principalmente em mulheres em idade reprodutiva, é a síndrome do ovário policístico. Essa doença também pode trazer uma resistência à insulina, o que acaba favorecendo o aumento do peso. Outras causas também podem estar ligadas a desregularização da tireoide e problemas relacionados à saúde mental.
“A mulher já é uma flutuação de hormônios por si só, desde a puberdade, passando pela idade reprodutiva e menopausa. Todos esses momentos onde há uma alta variação de hormônios há um risco maior de obesidade e ganho de peso, principalmente na menopausa. Essa fase, que possui uma redução dos hormônios femininos, também muda a distribuição de gordura no corpo, com tendência maior para região do abdômen que é muito mais difícil de perder”, conta Celina.
A depressão e outros transtornos do humor também podem interferir na motivação para praticar exercícios físicos e seguir uma alimentação saudável. Além disso, problemas como apneia obstrutiva do sono e insônia prejudicam o descanso adequado, levando ao aumento do apetite, redução da saciedade e desequilíbrio hormonal. Como consequência, afetam o metabolismo e a distribuição de gordura no corpo.
De acordo com a médica, tanto os transtornos alimentares como o comportamento alimentar atual vem causando um impacto cada vez maior no processo de perda de peso. “Muita gente inclusive diz saber o que deve comer ou como fazer dieta, mas às vezes se atrapalha na quantidade de alimentos que devem ser consumidos. A sobrecarga de atividades no dia também pode afetar no emagrecimento. Por conta do acúmulo de funções, há uma tentativa de compensação através da alimentação, dificultando até mesmo o seguimento da dieta. É uma atitude de compensação do cansaço, buscando prazer em algo que deveria ser canalizado de outra forma”, ressalta Celina.
Para descobrir uma possível causa para a dificuldade, um dos exames indicados é o de composição corporal que serve para mostrar se há mais gordura ou músculo no corpo daquela pessoa. “As vezes a causa do problema é só uma baixa massa muscular, conhecido também como o falso magro que possui um acúmulo de gordura visceral. Isso porque o nosso metabolismo está intimamente ligado a quantidade de músculo que temos. Uma dieta normal de uma pessoa pode chegar até 2 mil calorias, se uma pessoa com pouco músculo gastar menos que isso no dia, vai ter um quadro de calorias que podem estar se acumulando no corpo. Por isso quanto mais músculo, mais se gasta de caloria no corpo. Aliado ao exercício, esse número pode aumentar ainda mais e esse é o caminho natural para se perder peso”, destaca a endocrinologista.
Medicamentos como corticosteróides, antipsicóticos, antidepressivos e anticonvulsivantes também podem contribuir para o ganho de peso, já que a maioria deles aumenta a fome nos pacientes, por consequência a ingestão de alimentos necessários. As dificuldades no controle da glicose, como a resistência à insulina e o diabetes tipo 2, também estão relacionadas a desafios no emagrecimento, já que o excesso de glicose no sangue pode ser convertido em gordura e armazenado no corpo.
“Muitos pacientes diagnosticados com ansiedade fazem uso de medicação que faz ganhar peso. A depender do estado do paciente, pode se tentar uma troca por uma medicação que seja mais benéfica nesse quesito, mas se ele estiver bem estabilizado com esse remédio, é necessário buscar outras maneiras para evitar esse ganho de peso”, explica.
Juntamente com o passar das décadas, vai se reduzindo a taxa metabólica e a quantidade de massa muscular, mas muitas pessoas ainda continuam consumindo a mesma coisa que antes. Por isso, apesar do metabolismo ter sua parcela de culpa, é necessário que o paciente se adeque às mudanças que o corpo tem que passar para conquistar melhores resultados.