A tecnologia cresce e tudo é cada vez mais rápido. No Instagram, vemos corpos perfeitos e sorrisos para todos os lados. Viagem para a Europa, look novo, namorado novo, vida nova. Tudo muito rápido, tudo muito alegre, colorido e feliz. Mas, e a tristeza? Ficou onde?
Já existe uma corrente de blogueiros que se postam chorando para engajar o público; ou seja não estão de fato vivendo a tristeza. Como também tem quem defenda que rede social não é lugar de contar miséria. Concordo em partes com essa segunda colocação. Vi uma tendência no final do ano: " como posso ser triste em 2024 se…" e a pessoa relatava todas suas conquistas; é fundamental para nossa autoestima e autoconfiança lembrarmos da nossa força e nossa caminhada; mas porque dentro de tudo que foi vencido não se pode ter tido tristeza? Quantas vezes fazer o certo é dolorido e derruba lágrimas até do mais insensível? É normal se sentir triste!
A tristeza vem sendo excluída, calada e escondida; mas não é à toa que os números de ansiedade e depressão têm crescido; tudo aquilo que ocultamos toma forma, “é no silêncio que o tabú cresce”. Ficar triste tem sido sinônimo de fraqueza, de deslocamento social – porque estão acreditando que tudo que está postado é a realidade. A alta exposição às redes sociais traz esse contexto para os usuários e fazemos essa comparação com a vida dos outros quase que silenciosamente e vamos aos poucos construindo em nosso imaginário novos parâmetros que se tornam inalcançáveis.
A felicidade como norma social
Vivemos em uma era onde a felicidade é quase uma obrigação. A ordem é ser feliz, estar sempre sorrindo e mostrar ao mundo a melhor versão de nós mesmos. Redes sociais como Instagram e Facebook são vitrines dessa felicidade, onde se compartilham momentos alegres, conquistas e estilos de vida invejáveis. Tal exposição cria uma pressão constante para que todos sigam esse padrão irreal de alegria perpétua.
O efeito das redes sociais na percepção da tristeza
A tristeza, por outro lado, tornou-se um sentimento a ser escondido. É raro ver alguém compartilhar seus momentos de vulnerabilidade ou tristeza nas redes sociais, e quando o fazem, muitas vezes são julgados ou vistos como fracos.
Esse padrão de comportamento pode levar a uma série de problemas de saúde mental, pois os sentimentos negativos são suprimidos e não há espaço para expressar as dificuldades e desafios da vida.
Marketing da tristeza
Embora existam blogueiros que se postam chorando para atrair atenção e engajamento, a tristeza genuína raramente é mostrada. Esses casos de “marketing da tristeza” podem distorcer ainda mais a percepção da realidade, tornando difícil para as pessoas distinguir entre expressão autêntica e manipulação emocional para fins lucrativos.
Comparação e autoestima
A tendência de comparar nossa vida com a dos outros nas redes sociais é quase inevitável. Vemos as conquistas dos outros e nos sentimos pressionados a alcançar o mesmo. Mas essa comparação silenciosa pode ser destrutiva para a autoestima, já que muitas vezes nos baseamos em padrões irreais e inalcançáveis. A tristeza que surge dessa percepção de inadequação é frequentemente ignorada ou reprimida.
O aumento da ansiedade e depressão
Os números de ansiedade e depressão têm crescido, e isso pode estar diretamente relacionado ao modo como lidamos com a tristeza na sociedade moderna. Ao ocultar e suprimir sentimentos negativos, criamos um terreno fértil para o desenvolvimento de transtornos mentais. É essencial reconhecer e aceitar a tristeza como parte natural da vida, permitindo que ela seja expressa de forma saudável.
Redefinindo a tristeza
Precisamos redefinir a tristeza e mudarmos a forma como a encaramos. A tristeza não deve ser vista como fraqueza ou inadequação, mas como uma emoção natural e necessária para o crescimento pessoal. Ao aceitar e expressar nossos sentimentos de tristeza, podemos melhorar nossa saúde mental e estabelecer relações mais autênticas e profundas.
Práticas para uma relação saudável com a tristeza
Abaixo algumas práticas para desenvolver uma relação saudável com a tristeza:
- Autoaceitação: Reconhecer que é normal sentir-se triste e que esses sentimentos são válidos.
- Expressão emocional: Encontrar formas de expressar a tristeza, seja através de conversas com amigos, escrita ou terapia.
- Redução da comparação: Limitar o tempo nas redes sociais e lembrar que o que vemos online não é a realidade completa.
- Autocuidado: Praticar atividades que promovam bem-estar e relaxamento, como meditação, exercícios físicos e hobbies.
Então, fechando a trend do final do ano ao nosso estilo:
como dizer que não sou feliz se me permito chorar quando dói?
Se paro para ouvir a ansiedade e entender de onde vem o medo?
Se olho para o medo e não o temo, apenas escuto como um conselheiro?
Se recebo a felicidade de ser quem sou integralmente, sem negar as alegrias e tristezas?
Não existe luz sem que haja sombra, abraçar quem somos integralmente é entender que mesmo no desconforto é possível encontrar lições valiosas, espero que você após ler este texto consiga acolher as suas tristezas.
Um abraço carinhoso, Karol!

Empresária, mãe, mulher, psicanalista, tanatologa e terapeuta.
@karolynoberg