Quando a contaminação por Covid-19 começou a se alastrar por toda Alagoas, em março do ano passado, a microempreendedora individual Kathllen Menezes viu a sua empresa, a Dom Saudável (@saudaveldom), engrossar a lista de negócios que foram pegos de surpresa com a pandemia. Atuando na área de alimentação saudável em Delmiro Gouveia, no alto sertão alagoano, ela amargou quatro meses de produção parada e vendas suspensas.
“Só não cheguei a falir por que usei o valor do auxílio [emergencial] para voltar aos trabalhos depois”, diz ela nessa série que o Sebrae Alagoas inicia esta semana para contar como microempreendedores individuais estão fazendo para contornar a crise sanitária mais grave do mundo desde o surgimento da gripe espanhola, no início do século passado.
Nesse cenário desafiador, marcado pelo ‘abre e fecha’ do comércio e o medo das pessoas de serem contaminadas, Kathllen Menezes revela que a flutuação dos preços da matéria prima para produção dos alimentos foi o que mais impactou seu negócio após a retomada dos trabalhos, ainda no ano passado.
“A questão dos preços da matéria prima aumentou absurdamente, tendo que elevar o valor dos produtos também e com isso, até os clientes se acostumarem, nós tivemos uma queda nas vendas”, relembra.
Em Delmiro Gouveia, ainda segundo ela, também há uma dificuldade para encontrar quem quisesse trabalhar com o delivery. “Como não tem aplicativo aqui com entregadores, precisamos ter o nosso próprio entregador. E com o aumento dos casos [de Covid-19], todo mundo ficou com medo. E como eu dependo disso, foi bem complicado também”, conta.
Foco na segurança sanitária
Com o receio da contaminação, a empreendedora colocou em prática um protocolo sanitário para ser aplicado nas etapas de produção e vendas dos seus alimentos saudáveis. Passou a redobrar a assepsia dos produtos que saem e entram em sua casa, além de incentivar o pagamento online entre os clientes, para evitar a circulação de dinheiro em espécie entre várias pessoas.
“Nosso entregador toma os devidos cuidados, usando álcool em gel antes e depois de entregar cada produto. Optamos também por fazer as compras para o nosso estoque através de delivery, para evitar de estar saindo até o local para comprar”, revela.
Com o negócio reposicionado nos trilhos, Kathllen Menezes também percebeu algo no hábito de consumo das pessoas. Por causa da pandemia, muita gente passou a cultivar hábitos mais saudáveis com o objetivo de ganhar mais imunidade. E isso de certa forma foi bom para o negócio dela, que trabalha com alimentos saudáveis, mesmo que por um curto espaço de tempo.
“Teve um impacto positivo em relação a ter mais procura por alimentos mais saudáveis, só que o aumento maior mesmo foi no início do ano. Agora já meio que voltou ao normal. As pessoas já estão mais relaxadas em relação a isso”, lamenta.
Empreender no interior de Alagoas também tem suas peculiaridades. No caso de Kathllen, baseada no alto sertão alagoano, lidar com comida saudável por delivery é mais complicado, especialmente por causa da questão de entregador, para o serviço de delivery, como ela pontuou mais acima.
“E, também, tem a questão do valor alto dos produtos, pouca variedade. E com isso, o valor dos produtos para venda tem que ser mais alto, mas como aqui onde empreendo eu fui a primeira a colocar comida nesse ramo para venda, então foi bem difícil”, explica. “E ainda é preciso explicar para as pessoas que os valores são diferentes dos outros produtos tradicionais”, completa.
Para ajudá-la nessa empreitada, o Sebrae Alagoas a apoia por meio de capacitações de como empreender, por exemplo. “Aprendi muito nas questões financeiras, de marketing. Além de dicas também de nutricionistas”, destaca.
O começo
E é no meio dessa crise sanitária desencadeada pelo coronavírus que Kathllen segue firme com a Dom Saudável – o sabor do bem estar, que surgiu, segundo ela, por meio do incentivo dos colegas. Valendo-se do fato de que não há muitas opções de comida saudável em Delmiro Gouveia, ela decidiu começar a postar nas redes sociais – principalmente o Instagram – os pratos que já fazia.
“Muita gente pedia que eu fizesse para venda. Então, juntei a minha vida financeira, eu precisava pagar a minha faculdade de Nutrição e estava desempregada, uni o útil ao agradável e montei a Dom”, lembra ela.