Se você não é taróloga, cartomante ou oraculista, por favor, pare de tentar adivinhar o que se passa na cabeça de alguém. Essa é uma das grandes armadilhas da nossa comunicação, algo que impede uma conexão genuína entre as pessoas.
Você já reparou quantas vezes tentou interpretar, traduzir ou deduzir o que o outro sente e as razões para ele ter se comportado de determinada forma? É quase arrogante da nossa parte acreditarmos que estamos preparados para essa tarefa. Você é capaz de nomear todos os seus sentimentos e conectá-los à sua origem? Eu desconfio que não. Então, por que insistimos em adivinhar os sentimentos e as motivações dos outros?
Não estou falando aqui do “chute empático”, aquele movimento genuíno que fazemos para tentar “calçar os sapatos” alheios e enxergar onde o calo aperta. Isso é legítimo e, na maioria das vezes, vem acompanhado de generosidade. Estou falando da nossa mania de analisar e interpretar os fatos pela nossa perspectiva, que muitas vezes está contaminada por sentimentos de raiva, frustração, tristeza e por aí vai.
Há algum tempo, senti-me extremamente envergonhada por ter caído nessa armadilha. Estava meio aborrecida com uma amiga, e havia um desentendimento mal resolvido entre nós. Desatenta, segui levando e evitei conversar com ela sobre meu desconforto. Mas assumi o “modo Mãe Diná” e busquei interpretar cada palavra que ela dizia para além das palavras. Não apenas isso: eu tentava interpretar o olhar, as reações, os suspiros. Na minha mente criativa, assumi que havia coisas não ditas e comecei a validar minha hipótese e reunir “evidências” para ter uma conversa franca com ela, porque realmente me importava com a nossa amizade.
Num certo final de semana, nos encontramos para um café, e meu incômodo só cresceu, pois a percebi distante e desinteressada. Mas adivinhe só… continuei sem confrontar a situação. Criei várias interpretações para o que estava acontecendo. E, claro, em todas, julguei que ela não estava sendo sincera comigo. Para encurtar a história… passados alguns dias, engoli meu desconforto, encarei a conversa difícil e descobri que, naquele café, ela estava tomada por uma grande tensão, pois, no dia seguinte, receberia notícias sobre seu possível desligamento da empresa.
Essa foi uma lição marcante sobre prepotência e julgamento. Perdi muito tempo buscando interpretar algo que estava fora do meu alcance, quando uma simples pergunta sincera teria abreviado meu desconforto. E quantos sentimentos me tomaram por conta disso. Naquele instante, me reconectei com alguns combinados que havia estabelecido para mim mesma ao longo dessa caminhada.
O primeiro deles é: “não compre a avaliação alheia”. Isso pode servir como um orientador, jamais como uma verdade. Quer fazer um teste prático? Observe os comentários deixados na avaliação de um produto na Amazon. Nenhum deles receberá 5 estrelas unânimes. Um mesmo produto pode ser avaliado como “excelente” e como uma “bela porcaria”. Simplesmente porque quem compra tem expectativas diferentes. Por isso, evite tirar conclusões sobre o caráter ou comportamento de uma pessoa a partir da impressão dos outros.
O segundo é: “não tente adivinhar o que o outro está pensando”. Além de injusto, é prepotente. Se é uma pessoa querida e você realmente se importa com ela, exponha seus sentimentos. Se a situação está no trabalho e te deixa desconfortável, antes de encarar uma conversa difícil, convido você a avaliar seus próprios sentimentos e buscar separar o que são fatos do que é julgamento.
Então, vamos fazer um combinado? Em vez de tentar adivinhar o que o outro pensa, que tal praticar a arte da escuta ativa e do diálogo sincero? Vamos nos abrir para conversas francas, sem julgamentos ou interpretações precipitadas. Afinal, o segredo para relações mais autênticas está na nossa disposição de entender e ser entendido, sem filtros ou suposições.
E aí, topa o desafio de deixar as adivinhações de lado e apostar na comunicação verdadeira? Se jogue nessa jornada e veja como o mundo ao seu redor pode se transformar!
Fabrícia Carneiro Fernandes. Jornalista, gerente de Marketing, mãe da Maria, esposa, apaixonada por esportes e imersões na natureza. Há 23 anos ajudo empresas a fortalecerem suas marcas, convergindo pessoas e performance, por meio do marketing de serviços e com propósito. Quanto mais me conecto com o outro, melhor conheço a mim mesma e compartilhar conteúdo é uma forma de ampliar essa rede e fazer novos mergulhos.